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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

CARTA A ANDRÉ PESTANA DO S.TO.P.

 

Professor André Pestana

do S.TO.P.


Viemos do fascismo para a DEMOcracia. Na democracia há a união; na DEMOcracia há a desunião (sindical e do parlamento): o que o seu sindicato fez, unir todos os agentes escolares, foi um ato de união contrário à DEMOcracia, um ato democrático, um ato de LOUVAR com letra grande. Mas o S.TO.P. esbarra na DEMOcracia governamental.

A desunião sindical fez-se, em todos os setores do trabalho, como na Escola, criando mais sindicatos nas classes: dividindo as classes. As classes ou estão divididas ou não têm apoio sindical. A desunião no parlamento é à esquerda. Nas 17 eleições legislativas 9 ganhou o PS e 8 ganhou a direita: o PS concorreu isolado nas 9 vitórias; nas 8 vitórias o PSD concorreu 3 vezes coligado, duas vezes na chamada AD e uma com o CDS. A direita, que defende a minoria favorecida, une-se, a esquerda, que defende a maioria desfavorecida, não se une. Nos 9 governos que o PS liderou o sucesso sindical foi equivalente ao sucesso sindical nos 8 governos liderados pelo PSD: foi do retrocesso laboral que trouxe ao presente: o PS não é da esquerda, nem do centro, é da direita. O PS governa à direita contra a maioria desfavorecida que o elege. A direita (com 8 governos contra 9: num balanço equilibrado), liderada pelo PSD, prossegue linearmente o seu rumo indiferente à atividade sindical agregada ao PS e ao PCP: porque é o governo e não o exterior que faz a lei (só as leis insignificantes propostas pela oposição são aprovadas). À esquerda do PS estão o PCP e o BE de costas voltadas um para o outro e para a esquerda: cada um com o seu projeto partidário: sem o projeto da esquerda equivalente ao da direita. A esquerda não tem um projeto; a direita tem um projeto: e a direita tem um projeto reforçado pelas políticas favoráveis do PS. Esquematicamente: a direita tem uma espinha dorsal una (e reforçada), coesa e objetiva; e a esquerda tem uma espinha dorsal duplamente quebrada: quebrada entre o PS e o PCP e quebrada entre o PCP e o BE, sem unidade, sem coesão e sem objetivo. O objetivo da direita é político e o objetivo da esquerda, que não se une num só projeto, é retórico, panfletário e egocêntrico. Como o ato eleitoral é um fenómeno de grande universo o resultado (regularização estatística central) é central, no PS ou no PSD: os grandes universos de eleitores desfavorecidos votam contra si mesmos. É a DEMOcracia.

A democracia é das populações, é do Governo do povo, de todos, ou da esquerda, que é a maioria desfavorecida: isso vem da filosofia da Grécia antiga. E vivemos na era da democracia (ou das democracias) conforme ouvimos mediaticamente pelos líderes nacionais e internacionais. A DEMOcracia é do governo da direita, da minoria desfavorecida, no tempo da democracia: e fomos sempre governados pela direita, ou pelo PS ou pelo PSD. E foi com um partido camaleão, o PS, da esquerda com políticas assimétricas e encostado à direita, que viemos para a DEMOcracia:

Dos milhões que vêm para nós e não chegam a nós. Dos milhões que vêm para melhorar o que piora progressivamente. Dos milhões das parcerias correndo do público para o privado. Dos milhões que saem sem volta dos bancos e das grandes empresas para nós repormos obrigatoriamente. Dos milhões dos dividendos e do euromilhões indivisível para excêntricos. Dos milhões que voam digitalmente para os paraísos fiscais da Economia Centrífuga: uma nova disciplina universitária que lança a economia, por vórtice político, para fora da economia, para os Buracos Negros. Dos milhôes que voam dum lado para o outro todos os dias nos telejornais. Dos muitos milhões que os bancos emprestam aos agiotas sem garantias e dos poucos milhares que os bancos não emprestam aos cidadãos garantidos. Dos muitos milhões dos contratos que se cumprem e dos poucos milhares dos contratos que não se cumprem. Dos milhões dos que têm muito contra os que não têm um euro para pagar a refeição escolar do filho;

Onde as promessas eleitorais não são para cumprir. Onde as massas alienadas pela liberdade e o fanatismo político (com exceção dos abstencionistas) vão votar em quem não cumpre e as atraiçoa.

Onde são os mais ricos (e não os líderes políticos) a propor um imposto sobre as grandes fortunas. Onde há uma (in)justiça para os ricos e uma (in)justiça para os pobres. Onde a política do trabalho é do jogo da precariedade, do desemprego e das migrações. Onde se trabalha para o endividamento. Onde o lucro vem do endividamento de quem trabalha. Onde acusam o endividado que foi obrigado a endividar-se. Onde há as bancarrotas e o pobre é que paga. Onde se aplicam manobras manhosas como a do adiantamento de meio-aumento para a perda progressiva nos aumentos. Onde se desrespeita a família base da organização social. Onde o cidadão não pode defender-se do ladrão nem do estado. Onde a selvajaria, da Selvajaria anterior ao dinheiro e à Barbárie, domina na Civilização;

Onde o Professor paga para ir trabalhar. Onde se aplica a cartilha do Professor-Caracol. Onde o Professor é tridimensionalmente maltratado: pela indisciplina escolar, pelo diretor e pelo estado. Onde a direção escolar é dos pares e não-pedagógica. Onde o Professor é mandado calar pelo não-Professor. Onde o aluno erra e o Professor é que paga com trabalho suplementar gratuito. Onde o aluno erra e o Professor é que é chamado (para ser corrigido) ao gabinete do diretor. Onde o aluno agride e o Professor é que é acusado de agressor. Onde o aluno pode chegar atrasado quando o Professor e o pai (se é mal pago) são obrigados a chegar a horas. Onde o Professor não tem vida familiar porque vai para casa fazer trabalho da Escola. Onde o não-par, o Professor, vive o medo da desclassificação quando o par, o não-Professor, é que é classificado. Onde as cotas são à medida dos cotas e desclassificam o Professor. Onde a classificação do Professor é não-pedagógica. Onde o Professor contratado, o que vai atrás, nunca vai à frente. Onde o Professor é obrigado a fazer formação (paga do seu bolso) para subir na carreira e depois não sobe. Onde os pais se intrometem na ação pedagógica: uma exceção no mundo laboral dos uns, ou profissionais, onde não entram os outros. Onde a burocracia é posta à frente da pedagogia. Onde as leis escolares e as outras são feitas por bandalhos (porque na manifestação dos professores de 11/02/2022 em Lisboa um entrevistado gritou que isto atingiu o estado de Bandalheira: e um homem com 95 anos, com voz numa manifestação e elevando a bandeira nacional é uma autoridade). Da Escola humanista(?) para o aluno e agressiva e não-humanista para o Professor.

O humanismo renascentista negou a lei da fatalidade: mas hoje, na DEMOcracia, depois da escravatura há outra escravatura: uma escravatura legal sempre favorável aos pares: porque são os pares que se movem na ascendência partidária e porque é legal o orgão eleito. O sufrágio legaliza o ilegal a favor do mar financeiro e dos que nadam nele: um pormenor diabólico na DEMOcracia. No sistema totalitário a ilegalidade é ilegal e na DEMOcracia a ilegalidade é legal: o paradoxo das vanguardas financeiras simétricas às vanguardas éticas. Na DEMOcracia o trabalho, as artes e as ideias são manipulados a favor da não-ideia acrítica. Da não-ideia académica(?), moderna(?), ou medieval(?).

O filho do príncipe era legitimamente príncipe e o filho do escravo era obrigatoriamente escravo. Depois os ciompi foram ao poder e exerceram sobre os outros o poder que antes exerciam sobre eles: e é o que acontece agora: a inteligência, a sensibilidade e o fazer pelo outro são desprezados como antes de Nicolau Maquiavel e depois de Aristóteles. E rouba-se descaradamente aos pobres para dar aos ricos. É isto a democracia? Não! É a DEMOcracia!: uma nova forma de escravatura centrada na liberdade de falar e de votar nas bases e na liberdade de saquear no topo da pirâmide social. A filosofia, na era do saber, regrediu do diabólico metafísico para o diabólico político.

O parlamento (da DEMOcracia) devia evoluir em Parlamento (da democracia) pela união da esquerda, do PCP com o BE (que nunca se uniram e corporizam o teatro parlamentar), ou de um novo partido vindo dum impulso como o seu, de união, do S.TO.P.. Um novo partido político que atraísse o grande universo dos abstencionistas. Isso porque o abstencionista é de esquerda: o eleitor de direita vota sempre. Eu sou desde há muito abstencionista e sou de esquerda: e iria votar num partido que defendesse a esquerda como o S.TO.P. defende a Escola.

Mas, mesmo assim, com a união partidária da esquerda, o progresso estaria incompleto. Platão disse que só se entregava o governo a um grupo eleito porque era impossível reunir na Praça Sintagma o povo de Atenas para a execução da lei. Queria dizer que a transformação legislativa pertencia, na democracia, ao povo e não ao orgão eleito: e que o povo não decidia porque não era possível. Mas hoje (2400 anos decorridos), com a internet, é possível a cada momento pedir a opinião dos grandes universos de cidadãos: o futuro (se se prolongar além da Guerra Quente (do nuclear)) será assim e será para isso, fundamentalmente, que a informática evoluiu. E não receie: não porque os grandes universos são formados academicamente e sim porque a regularização dos grandes universos convergirá no centro, na lei equilibrada, como agora converge nos partidos centrais.


13 fevereiro 2023

Arsénio Rosa (professor aposentado)