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quarta-feira, 28 de maio de 2025

ESTÉTICA II III IV V

 

 II ESTÉTICA DISCIPLINAR E ESTÉTICA. A BELEZA E O BELO. O ARTIFICIAL SOBRE O NATURAL. O CAOS.

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Se a beleza é das coisas naturais o Belo, a sublimação da beleza, é da Arte: na hierarquia do estado natural, dos objetos da natureza, para o estado artificial, dos objetos criados pelo homem. A criatividade vem, fundamentalmente, do impulso do natural para o artificial da evolução humana desde tempos imemoriais partindo do hábil. Se a Estética é da Arte contornando o Gosto, a Forma e o Belo ela não vem de Alexander Baumgarten, do século XVIII, vem de Sócrates, da Grécia antiga e do século IV antes de Cristo, da Alegoria da Imitação que implicou a ideia de (B)belo acima da de beleza. Zeuxis convidou Parrasius para ir ao seu atelier ver o seu último quadro. Parrasius foi e ficou maravilhado olhando a natureza morta que era a imitação perfeita dum cacho de uvas. A pintura, uma forma artística e artificial, da Natureza Humana, superava a beleza do cacho de uvas, uma forma da Natureza, indo a belo. A beleza, do cacho de uvas, da Natureza, foi a belo, da imitação, ou do artificial: houve a separação de beleza e belo porque o artificial não podendo superar linearmente a beleza da Natureza superou-a paralelamente, na sua beleza particular pela criatividade, o belo. O belo era tão perfeito que um bando de pássaros entrou pela janela e foi bicar a tela. O elogio da imitação elevava a beleza, dos objetos naturais, a belo, dos objetos artísticos, artificiais. Parrasius, impressionado, convidou Zeuxis para ir ver também o seu último quadro. Foram. No atelier do colega Zeuxis não viu nada de novo e questionou-o. Parrasius disse-lhe que a pintura estava por detrás do cortinado da parede. Zeuxis foi e quis agarrar o cortinado: mas não conseguiu porque ele era a pintura de Parrasius. Se Zeuxis enganou os pássaros e Parrasius enganou Zeuzis Parrasius era melhor pintor que Zeuxis: porque a perceção cognitiva do homem é superior à perceção intuitiva dos animais: e a imitação de Parrasius era mais perfeita, mais criativa ou mais bela, que a de Zeuxis. Houve, consequentemente, partindo da beleza espontânea, uma ascenção do belo em mais belo em direção ao Belo da Obra de Arte. Associados ao Belo estariam o Gosto e a Forma da Estética Embrionária que cerca de 2100 anos depois, em 1750, por Alexander Baumgarten evoluiu em disciplina.

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Depois de Sócrates Platão, pelo duplo afastamento do inteligível para o sensível, da imitação, entre o objeto imitado e a imitação, concluiu que o Belo era utópico, pondo a Obra de Arte como algo a almejar sistematicamente, no  inatingível, no limite em tudo semelhante ao limite matemático. O filósofo considerava que as coisas, incluindo os homens, a copiar, já eram cópias sensíveis de modelos originais inteligíveis: uma relação absurda que admitia dois mundos iguais e paralelos num só mundo. Vindo de trás, da alegoria da imitação, só há dois belos: o do objeto real, a beleza, e o da imitação, o belo. E é assim porque na transição do belo em mais belo da imitação só há dois patamares: no primeiro a perfeição do belo engana a sensibilidade irracional, dos animais; e no segundo a perfeição do belo engana a sensibilidade humana: e essa exclusividade diz-nos que o belo vai efetivamente a mais belo, ou a Belo, na imitação, e que a Obra de Arte não é utópica, é atingível e tangível simultaneamente. Intersetando os dois critérios, do inatingível e do atingível, prevalece o segundo porque a forma, ou Forma, são tocáveis: quando o primeiro parte duma relação utópica (de um meio inteligível, do criador do objeto imitado, para outro meio inteligível, do artista que copia) não tangível. A Obra de Arte, e o Belo, na Imitação, logo no princípio, eram atingíveis: da Arte pela criação artística.

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A impossibilidade platónica de atingir a Obra de Arte devido ao duplo afastamento entre a imitação e o objeto imitado sugeria que o Belo era do objeto imitado e não da imitação: sugeria que o Belo era da Natureza (ou de uma natureza metafísica) e não da Natureza Humana, ou Arte. Mas essa sugestão é incorreta: porque as ideias de Belo e de Obra de Arte nasceram quando nasceu a ideia de Arte e de Estética, na Alegoria da Imitação de Sócrates: são do homem e de nenhuma utopia. Isso porque desde há cerca de 2400 anos, da Imitação ao expressionismo moderno, subsiste a teimosia, na Arte e na Literatura, da Obra de Arte inatingível. Uma teimosia metafórica. Na ideia da aspiração superior, ou suprema, do artista, ou da Arte, superarem indefinidamente a imitação em direção ao imitado, dois objetos terrenos (muito embora o objeto imitado possa ser uma figura ideológica), disjuntos entre si e autónomos. 

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É inquestionável a beleza da Natureza, das montanhas, dos voos dos pássaros, dos bosques selvagens, e das águas dos rios e das nascentes. Por isso na sequência Beleza, belo e Belo, a Beleza é da Natureza, o belo é das estéticas e o Belo é da Estética, por dois motivos: porque tem de haver distinção de associação; e porque facilita o estudo da evolução da Estética e da Arte, o objetivo deste livro. Daí que a beleza é do natural e o belo e o Belo são do artificial. Se a sequência for crescente o belo, do ornamento e artificial, será mais belo que a beleza natural; contudo a beleza natural transcende, extraordinariamente, o belo ornamental: e aí surge a primeira contradição da relação da Natureza com a Natureza Humana, do homem, na  Arte. A beleza é mais bela que o belo mas o belo, artisticamente, tem mais beleza que a beleza. Por essa contradição o homem, na sua evolução ornamental vinda do homo-habilis de há mais de 10^6 anos, transcendeu a beleza natural artificialmente, pela fabricação. Tudo bem se o belo e a beleza, a primeira artificial e a segunda natural, convivessem harmoniosamente: mas não convivem. O domínio do belo sobre a beleza trouxe ao caos ambiental: e é por aí que o Belo, da Estética e da Arte, denuncia como contraditória a contradição referida. A contradição, da ascenção do belo sobre a beleza, assume-se como contraditória no expressionismo artístico: onde, pelo contraditório, a Arte Moderna seguinte a O Grito de Edvard Munch, busca a Obra de Arte como veículo, da Arte e da Estética, a favor da beleza (ambiental) que o belo contrariou.

 

III A CONTINUIDADE LINEAR DA ESTÉTICA. CRÍTICA E NEOCRÍTICA. O ESTADO CRÍTICO.

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Logo no início da Estética foi o seu Gosto quem determinou a sua Forma e o seu Belo e continuou assim em todos os momentos da sua evolução passando pela Arte Clássica até à Arte Moderna e a atualidade. As definições do Gosto, da Forma e do Belo de cada período histórico foram marcadas pelas transformações fundamentais que fizeram as transições: daí que a Estética seguiu uma linha feita da ligação desses pontos transitivos que durou mais de 2400 anos. O primeiro ponto da linha foi o da  Imitação de Sócrates. O segundo ponto foi com o Belo de Platão fixando-o como aspiração impossível da Imitação e da Arte. O terceiro ponto foi com a crítica de Aristóteles. O terceiro filósofo grego viu Arte na tragédia e viu arte na comédia teatrais: porque a comédia era neutra e a tragédia era crítica: e a crítica fixou-se no terceiro ponto da Estética porque toda a linha seguinte, até ao presente, foi de aspiração crítica. O quarto ponto, o Renascimento, nasceu da crítica ao religioso e à lei do fatalismo de Aristóteles. No quinto ponto, na transição do Renascimento para o Maneirismo, esteve a crítica à distinção aristocrática e, por Tinttoreto, da abstração inicial, ao metafísico. E assim por diante até atingirmos a Arte Moderna em 1848 e nos centrarmos nos cerca de 180 movimentos artísticos até ao presente. Estética, este livro, interpreta essa linha crítica que, com a Estética como disciplina da Arte desde Alexander Baumgarten (1750), atingiu a crítica moderna, ou neocrítica, no Expressionismo seguinte a O Grito, de 1893, de Edvard Munch.

 

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A critica de Giotto, de Tintoretto e de Caravagio ao religioso era direta: no olhar terreno, na indistinção entre Jesus e os apóstolos e nos retratos de figuras santas no rosto duma meretriz. A crítica de Eugène Delacroix à sociedade humana foi direta na figura duma mulher seminua representando a liberdade libertando o povo. A crítica á lei do fatalismo de Aristóteles, negada no Renascimento mas persistente até ao Romantismo, foi direta no Navio Negreiro de William Turner. A crítica à bestialidade da guerra, já na aproximação ao moderno, de Francisco de Goya, em Os Fuzilamentosde do 3 de Maio, foi direta. A crítica ao artificial, pela elevação da Natureza ao primeiro plano das composições da Escola de Barbizon, de 1849 e da origem da Arte Moderna, foi direta. A representação crítica do emocional contra o fotográfico do Impressionismo foi direta. Mas, em 1983, com O Grito, Edvard Munch criticou o artificial, da decadência humana, pelo artificial e o decadente; criticou a alienação humana com um quadro alienado: numa crítica indireta, ou neocrítica. A neocrítica foi o impulso essencial da transformação, na Arte e na Estética modernas, do gosto em Gosto e da forma e do belo em Forma e em Belo. A neocrítica de Munch foi depois de Pablo Picasso, da crítica à agressividade humana pelas images agressivas e da guerra, como em Mulher Chorando e Guernica, e só se afirmou duplamente, na Arte e na Estética, por um movimento: o Expressionismo Alemão seguinte a 1920. A análise da evolução da Arte e da Estética segue o avanço da neocrítica do feio contra o feio, do bruto contra o bruto e do grotesco contra o grotesco, do avanço da Arte no contraditório seguinte a 1893. A Arte Moderna usa o contraditório e a neocrítica, das disparidades entre belo e beleza e da crítica indireta exclusiva da Arte. A neocrítica é anterior à arte bruta (não de Dubufet), é da arte quase bruta, aquela ingénua e esta crítica pelo bruto ao bruto.

 

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A imitação, vinda de há mais de 2400 anos, substituía a imagem real, concreta, histórica, ou mitológica, pela sua cópia: não admitia espaço para a crítica. A presença da crítica em Giotto, Tintoretto e Delacroix foram desvios (aqueles espaços) à cópia da imitação. Em Goya, no Fuzilamentos do 3 de Maio, e em Turner, no Barco Negreiro, a crítica do real é feita com a imitação do real: a cópia do evento crítico, a guerra e a escravatura. A crítica pelo desvio foi à crítica direta do confronto objetivo na imitação e à neocrítica pelo subjetivo, dos adjetivos, do feio pelo feio, do bruto pelo bruto, do violento pelo violento, já no abstrato, posterior à imitação. A imitação era decorativa e não era ideia. Se o decorativo era acrítico e a Arte é ideia a Arte tinha de ultrapassar a imitação, ir ao abstrato, para se tornar crítica. O desvio da imitação e o confronto da realidade crítica pela sua imagem foram alterações intermédias ao avanço do decorativo para o crítico e a neocrítica, Pelo decorativo, partindo da forma real ou imaginada, e a imitação acrítica, a forma ia a forma e o belo ia a belo pela inércia do gosto; pela abstração crítica, a forma vai a Forma pela dinâmica da neocrítica que eleva o gosto a Gosto e o belo a Belo. Foram a crítica e a neocrítica, como impulsos ideológicos, que deixaram a imitação e o decorativo nas suas estéticas e elevaram o abstrato à Estética da Arte no andamento do antigo para o novo.

 

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Se a crítica foi direta no tempo da imitação plástica e da fotografia ela tendeu a neocrítica, uma crítica indireta, da alteração plástica centrada no rosto. O Grito de Munch é emitido por uma cara alterada plasticamente. Os rostos de Picasso são caras alteradas plasticamente pelo cubismo. O Expressionismo Alemão, da crítica declarada do grotesco pelo grotesco, centra-se na transfiguração do rosto em máscara.  Fantasma com Máscara (1952), de Karel Apell, do movimento CoBrA, desdobra a figura humana na dupla máscara, a do fantasma e a da máscara do fantasma, enfatizando a máscara na plasticidade da Arte Moderna. Mas, antes da transformação facial, que leva do rosto, do homem natural, à máscara, do homem artificial, Paul Cézanne alterou plasticamente a paisagem pelo cubismo inicial. E já antes do Cubismo e do Impressionismo os pintores de Barbizon pintando diretamente (sem esboço), desrespeitando as regras clássicas e académicas, o Bosque de Fontainbleau, alteraram plasticamente a paisagem artística. Essa alteração plástica da paisagem, transportando a fuga ao real, evidenciou-se am 1904 com o fauvismo, primitivo, colorido e intenso. A neocrítica será a crítica da Arte Moderna pela alteração agressiva do rosto, da paisagem e do objeto, ou da forma: a forma vai a Forma pelo desvio crítico (do homem ao homem) do gosto em Gosto: e o belo vai a Belo pela transformação plástica distinta da cópia da imitação e da fotografia. O evento fotográfico trouxe a negação da imitação e a elevação da plasticidade nas Artes Plásticas: ao mesmo tempo que abriu a Arte à conversão da crítica na neocrítica.

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Munch colocou a alienação humana, da queda do belo, do artificial, perante a beleza, do natrural, na Arte. Em 1916 Tristan Tzara, Hugo Ball e Hans Arp, com o Dadaísmo, colocaram na Arte a oposição à guerra. Em 1945, depois das bombas atómicas sobre Hiroshima e Nagasaki e da II guerra mundial, o Expressionismo Concetual criticou o caos ambiental pelo caos do salpicado de Jackson Pollock: depois do alerta do Aquecimento Global de 1938, por Guy Callender. Em 1945 ao alerta científico associou-se a crítica artística na negação do Estado Crítico nascido com o nuclear e que cresceu até hoje. O científico associado ao artístico como que legitimou a neocrítica da Estética. A Arte Moderna seguinte a 1945 criticou o artificial, a guerra e o Estado Crítico. Pelos métodos críticos convencionais, a oralidade e a escrita, a crítica é feita diretamente pelo sinal linguístico, a palavra. Não ao artificial! Não à guerra! Não à poluição ambiental! Três gritos que a crítica direta, como do livro, da televisão e da internet devia usar mas não usa. Três gritos usados pela neocrítica da Arte e da Estética. Esses três gritos seguintes a 1945  tiveram eco em 1963 no vídeo Sun In Your Head, de Wolf Vostel, que demarcou uma nova Vanguarda da Arte e um novo ponto da Estética a seguir até à Arte Crítica, ou Arte Quase Bruta, de 1919. Quando a palavra só é utilizada no contraditório, no sentido crítico indireto, em algumas correntes artísticas porque a Arte comunica pelos signos e não pelos sinais. Quando o sinal, como o linguístico, vai a signo, do convencional para o artístico, a crítica vai do direto ao indireto: a neocrítica.


IV VANGUARDA. UNIÃO LINEAR DA VANGUARDA À ESTÉTICA. A VANGUARDA E A NEOCRÍTICA. EXPRESSIONISMO NEOCRÍTICO.

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A análise da evolução da Arte segue a crítica e a neocrítica dos seus percursos inicial e final. Quando a neocrítica se segue à crítica na linha da Etética em continuidade linear. Em 1848, com a ideia do que vai à frentre na Arte, a Vanguarda seguiu o alinhamento racionalista, ou linear, da Estética: e não podia ser de outro modo porque Arte, Vanguarda e Estética, são comuns e não disjuntas. Estética, crítica, neocrítica e Vanguarda unem-se na linha contínua vinda da origem da Arte. Ao fundir-se, na sua origem, na linha da Estética, a Vanguarda adquiriu o seu estatuto de Entidade: quer dizer que é a Estética, a disciplina da Arte, que determina o que é a Vanguarda (e a Obra de Arte) de cada período artístico e não os indivíduos, como críticos de arte, curadores e académicos, alinhados em interesses alheios ao andamento estético da Arte. O que define uma Vanguarda, ou um ponto da Estética, não são os movimentos, nem os líderes artísticos (?) e sim a ideia subjacente a esses movimentos e lida no que os conduz, na sua disciplina, a Estética: só porque Arte é, sobretudo, ideia. ideia crítica: porque a ideia sem crítica não é propriamente ideia. A Vanguarda, na linha da Estética, distinguiu a arte Moderna da arte que a precedeu.

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A imagem alienada, e andrógina, de O Grito de Edvard Munch, foi a primeira figura centrada no feio, no grotesco e na bestialidade figurativa da Arte para a figura humana, ou homem. O feio, o agressivo e o bruto foram depois das figuras e composições cubistas de Pablo Picasso. E esses adjetivos fixaram-se definitivcamente na Arte Moderna no Expressionismo Alemão. Antes da agressividade expressionista a Arte era criticamente benevolente, adaptada ao belo otimista da psicologia e crença antigas, ancestrais. O otimismo, onde a crença no artificial, das religiões e das tecnologias, admitia sempre o bem futuro sobre o mal presente, anulava, magicamente, o pessimismo. Podemos admitir que o pessimismo antes da neocrítica não existia: porque a força psicológica, biológica e transcendente, do otimismo, anulava o seu oposto, o pessimismo, indo do artificial para mais artificial. Mas aconteceu que esse andamento otimista  conduziu à saturação ambiental. Deus, o ser otimista extremo do individual, deixou ir ao caos o geral, o homem, conduzindo-o ao Estado Crítico e ao caos: donde a crítica expressionista, ou neocrítica, pelo feio, o grotesco, o macabro, mesmo o diabólico, da figura otimista e suicidária humana. A agressividade da neocrítica, que o grande universo de otimistas ingénuos, com os manhosos e irresponsáveis, chamam pessimismo não é pessimismo: é a crítica, pelo expressionismo contraditório, ao péssimo da besta humana que tende a ir do caos para o caos.

 

 ABSTRAÇÃO CRÍTICA. CLASSIFICAÇÃO ARTÍSTICA. DEFESA  AMBIENTAL.

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No princípio da Arte, em Sócrates, a criatividade era imitação: por isso hoje, quase 2500 anos decorridos e porque não estagnámos no princípio, a Arte não é imitação. Se o contrário da imitação é a abstração a Arte hoje é da abstração; mas o homem evoluiu na ideia e é sumariamente ideia: logo que a abstração da Arte é ideia e não a ausência dela. E as duas variantes da evolução da Arte Moderna, a geométrica que convergiu no Suprematismo, e a crítica que convergiu no Expressionismo Alemão, fundiram-se no Expressionismo Abstrato, necessariamente crítico: porque da interseção do acrítrico com  o crítico resultou o crítico, da ideia e da génese humana. A imitação, na sua origem, incidia sobre o objeto real: pelo que a abstração, o oposto do real, será o simétrico da imitação. Logo no princípio a Obra de Arte e o Belo eram da imitação e não do objeto imitado: e a Obra de Arte e o Belo só seriam inatíngíveis se fossem do objeto imitado, duplamente afastado da imitação, e não da imitação. Logo que a Obra de Arte, hoje como no princípio, são acessíveis e reais: no princípio no hábil, da cópia; e no fim no ideológico, da crítica.

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Alexander Baumgarten, no século XVIII, criou a Estética da Arte para que se pudesse distinguir a Arte da não-Arte. Por ele a Arte seria das disciplinas académicas. Mas a evolução da arte Moderna negou a arte académica indo contra a opinião do filósofo. Vinda de Sócrates a Estética atingiu a Estética Moderna simultaneamente à origem das vanguardas com a Escola de Barbizon. Este livro estuda o andamento da Estética até á origem da primeira Vanguarda para prosseguir no seu estudo comum. Sendo a Vanguarda de cada período artístico que determina o Gosto da Estética a distinção da Arte da não-Arte vem da classificação da Obra de Arte partindo do Gosto.  O Gosto Transfere a classificação da Obra de Arte dos indivíduos, e dos seus gostos, para a Estética: os críticos de Arte seguem o gosto disciplinar, ou Gosto, alheios aos seus gostos, ou às suas estéticas. Trata-se de um método racional equivalente aos métodos racionais das outras disciplinas escolares: da cultura comum. Finalmente, com a negação do artificial em 1848, com a negação dadaísta da guerra e a convergência das duas negações em 1945, depois do alerta do aquecimento global de 1938, a Estética e a Arte abraçaram a luta contra o Estado Critico da problemática global. E a Arte Crítica, de 2019 (de minha autoria e que termina este livro), depois do grito de emergência de Sun In Your Head, de 1963, dita a crítica ao caos na exigência da classificação artística.

ESTÉTICA I

 I

INTRODUÇÃO

 

1

A Estética é a disciplina da Arte. A disciplina da Arte, como a disciplina de qualquer outra área ecolar, segue um padrão racional e não se dispersa irracionalmente. Mas, regra geral, dizem que a Estética tem a ver com o gosto de cada um. Se a Estética variasse pelo gosto de cada um haveria uma infinidade de estéticas, uma dispersão irracional do seu significado e uma anulação da sua natureza disciplinar. Contudo a Estética é uma disciplina e cada indivíduo tem a sua estética distinta das estéticas dos outros: o que nos leva a concluir que há a Estética, disciplina da Arte, e a estética, do gosto de cada indivíduo. E para responder ao gosto de cada indivíduo cada ofício, como a do calçado, do vestuário e do mobiliário têm a sua estética adaptada. Pelo que há a Estética da Arte, as estéticas dos indivíduos e as estéticas dos ofícios.

 

2

Estética, este livro, aplica, fundamentalmente, o Método Indutivo na análise da Arte, da Estética e da Obra de Arte. O Método Dedutivo, anterior a Descartes e ao racionalismo, parte duma verdade absoluta, Deus, para, partindo dela, deduzir como verdade todas as outras. Por essa verdade metafísica o universo foi uma criação de Deus, o homem foi uma criação de Deus, a Arte foi uma criação de Deus e a Obra de Arte, é uma criação de Deus; por essa relação dedutiva Platão, nas origens da Estética, concluiu que a Obra de Arte era inalcançável pelo duplo afastamento sensorial, entre o objeto imitado e a sua imitação: fantasia que vem desde há cerca de 2400 anos e que Estética nega pondo a Obra de Arte no seu lugar criativo, alcançável, do racional. No Método Indutivo a dúvida sobre uma realidade leva-nos à sua análise experimental e à certeza da realidade que lhe é subjacente: e assim sucessivamente conforme a cadeia das coisas relacionadas. Pelo Método Indutivo este livro analisa o que é a Arte e a Estética desde as suas origens concluindo o que as dirige em cada momento histórico até ao presente: a Arte Moderna depois de cerca de 170 movimentos artísticos vindos desde 1848, da Escola de Barbizon. É a análise do andamento histórico que nos diz o que  é a Arte e a Estética em cada momento contra a classificação ditada, ou deduzida, pelo agente artístico como substituto da verdade absoluta.  

 

 

 

3

Um indivíduo adquire um objeto, uma forma, uns sapatos, um casaco, uma cadeira, levado pelo seu gosto ornamental, a ideia de beleza que satisfaz o seu dia a dia. Como os gostos variam multiplamente de uns para os outros há uma dispersão incalculável de formas de calçar, de vestir e de mobilar contornando uma dispersão equivalente de gostos, de formas e de belos: isso na análise do indivíduo, ou do gosto, para o objeto, ou forma. Analisando opostamente, partindo da forma, há uma dispersão enorme de ofertas de sapataria, de vestuário e de mobiliário, para satisfazer todos os gostos: há, consequentemente, uma estética associada a cada variante ornamental, ou a cada ofício. Há a estética do mobiliário, há a estética da arquitetura, há a estética da chapelaria e por aí fora, sem restrições. Na Arte os gostos também se dividem: há quem só goste de arte abstrata, há quem só goste de arte clássica, há quem só goste de arte naif e há quem só goste de arte figurativa, com essa dispersão dos gostos, das formas e dos belos negando a racionalidade disciplinar da Arte: o que nos diz que é a Estética que dirige os gostos e não os gostos que dirigem a Estética, na Arte. Se é a Estética, a disciplina da Arte, que dirige os gostos artísticos ela tem um só gosto: o Gosto. Se é o Gosto da Estética que dirige as suas formas estas centram-se numa só forma: a Forma. O Gosto e a Forma da Estética determinam o seu Belo. Assim que o Gosto, a Forma e o Belo são da Estética e o gosto, a forma e o belo são das estéticas, individuais e dos ofícios. A Forma, o objeto artístico, ou Obra de Arte, é exclusiva da Arte; o Gosto, um só na multiplicidade de criadores artísticos, é da Estética; o Belo, obtido da apreciação da Forma pelo Gosto, é da Estética: é a sensibilidade associada ao Gosto e ao Belo depois da Forma que faz da Estética a Entidade (disciplinar) da Arte. O Gosto da Estética, que determina a sua Forma e o seu Belo, é o Gosto ditado pela Vanguarda do seu momento: a Vanguarda, que dirige o Gosto para o Gosto e o Belo para o Belo seguintes, une a Arte à Estética determinando o que é a Obra de Arte na Arte Moderna: porque a noção de Vanguarda nasceu com a Arte Moderna, pela Escola de Barbizon, em 1848.

 

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Se as estéticas são muitas, múltiplas e variadas, contornando os indivíduos e os ofícios, e a Estética é única, da Arte, na pirâmide social as estéticas são do seu corpo e a Estética é do seu vértice: da vanguarda de cada momento histórico, artístico e social: porque, muito embora muitos indivíduos sejam indiferentes à Arte, é ela que nos dirige partindo da arte do sentir, do olhar e do fazer. Isso diz-nos que as estéticas são da dispersão, da diversão humana, e a Estética é da sua direção, da razão social. Uma direção distinta da política: uma vez que esta se dispersa por fações partidárias de esquerda, do centro e de direita repartidas por interesses associados, empresariais, ideológicos e religiosos, cada um com a sua estética, enquanto a Estética é única. Interpretar a Estética parte da interpretação do Gosto, da Forma e do Belo, do modo como se isolaram das formas, dos gostos e dos belos da irracionalidade ornamental para a racionalidade disciplinar, ou da dispersão para a unicidade.

domingo, 8 de outubro de 2023

ARTE QUASE BRUTA

 

Registado em 14 Novembro 2019 na Revista Académica Online com o número: 10.36238/23595787.artcient.14112019


MANIFESTO DA ARTE QUASE BRUTA


1

Em 1848, inspirados na pintura de Jonh Constable, os pintores da Escola de Barbizon elegeram a Natureza pintando-a diretamente no campo.(1) A Natureza, sobre a Natureza Humana, fixou-se, a partir daí, na Arte. Esse domínio expressou-se na arte fundamental: por Pablo Picasso Guernica traduziu o animal sobre o homem no humano; o grito, de O Grito, de Edvard Munch, foi o grito da Natureza sobre a Natureza Humana; e O Urinol, de Marcel Duchamp, representou o Homem Poluidor da Natureza (ou poluidor ambiental) sobre todas as variantes que lhe associaram. O Ambiente, motivo primeiro da preocupação global de hoje, não é de hoje na Arte: é dos princípios da Arte Moderna nascida da consciência do domínio da Natureza sobre o Homem. William Morris, na década de 1880, na Inglaterra, fundou o movimento Arts & Crafts preocupado com a poluição industrial crescente.(2) A Arte Quase Bruta impõe-se como corrente artística consciente do Problema Ambiental e sintoniza a preocupação global do século XXII com a evolução da Arte e da Estética.

A evolução da Arte Moderna, das correntes mais plásticas e geométricas, como o Fauvismo e o De Stijl, às mais interventivas, como o Accionismo Vienense e o Fluxus, às exclusivamenre reivindicativas, como as secessões de Berlim e de Viena, opôs-se à arte imposta por pares, ou grupos, académicos, mercantis e institucionais. Contudo, a Arte Contemporânea, iniciada na década de 1950 para o domínio artístico de hoje, é dos pares: em tudo idênticos aos antigos, aos que a Arte Moderna, de sua origem, se opôs. A Arte Quase Bruta opõe-se às corporações elitistas a favor da verdade da Arte e da Estética e elege a Obra de Arte na origem.

A evolução da Arte Moderna, sobretudo pela Pintura (disciplina dominante na quase totalidade dos movimentos artísticos modernos), convergiu no extremo oposto do realismo, no Conceptual: na ideia. A Arte é, consequentemente, ideia. E se a Arte é ideia um novo movimento artístico tem de nascer da ideia e não de um bando eleito, artístico, académico, ou de cabaré. E a Arte Quase Bruta, deste manifesto, nasceu da ideia; da minha ideia sobre a pintura de Eusébio Almeida em consonância com as exigências da Arte e da Estética: original, conceptual no significante, não-neutra. A Arte Quase Bruta é da ideia: da Estética, da Arte e da maximização cognitiva que o Homem atingiu na atualidade.

Arte Quase Bruta para uma corrente artística nasceu dessa mesma inscrição no quadro O Mendigo Revoltado de 2017 (e recorrente noutras obras) do Pintor Eusébio Almeida. Arte Quase Bruta e outras inscrições, como Ninguém é Obrigado a Ser Feliz, O Naufrágio da Europa, Poesia Ortopédica e Masturbação Mental, são signos linguísticos e contraditórios da Obra de Arte e do estado atual. Hoje, século XXII, quando a Arte evoluiu para o conceptual, a arte de vanguarda é do Conceptual: não do conceptual direto, o que se concebe no fazer comum, mas do conceptual que transcende os significados

e o comum, do significante, ou contraditório. O Conceptual é da crítica significante na era do Estado Crítico onde o Homem, pelo aquecimento global, nega o poder regenerador da Terra. A Arte Quase Bruta é do Antropoceno contra o Antropoceno.

O Mendigo Revoltado refere-se ao homem preso no mundo livre (?) em que nasceu. O Mendigo Revoltado remete para a alienação social que inclui a artística, dos cartéis, ou corporações, onde entra no lugar da originalidade o não-original, no lugar da Arte a não-Arte e no lugar da força a apatia, dos pares. O Mendigo Revoltado é do tempo do ver sobre o olhar quando domina o olhar sobre o ver. O Mendigo Revoltado impõe a razão estética na análise da Obra de Arte. É essa razão, dada por aquilo para que a Estética evoluiu, que eleva o ver duchampiano sobre o olhar retiniano. O Mendigo Revoltado é do homem conceptualizado pelo Estado Crítico nascido do projetado, do programado e do calculado. O Mendigo Revoltado é da era da esperança individual máxima e da esperança coletiva mínima. A Arte não morreu e, contrariamente, dá voz ao Mendigo Revoltado e à Arte Quase Bruta.


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A Arte Quase Bruta parte, basicamente, da agressividade, ou não-passividade, das composições como signos que podem ser ou não enriquecidos pela grafia contraditória. O signo artístico é o sinal dinâmico e crítico sobre o sinal estático: do significante sobre o significado e do contraditório sobre o direto. O significado, que implica o insignificante e o direto, são do sinal estático, decorativo e acrítico; e o significante com o contraditório são da Estética, da Arte e do signo crítico. São o significante sobre o significado e o contraditório sobre o direto que abrem a Obra de Arte às ideias, ao Conceptual, partindo da crítica artística. A composição estática, como símbolo, ou sinal, sem signo, não é Obra de Arte: não é Arte. É a presença consciente do signo na Arte Quase Bruta que a faz da vanguarda artística

Uma lata brilhante, limpa e intacta, pode ser exposta como arte; uma lata inutilizada, pisada, suja e enferrujada, com encaixe expositivo, pode ser exposta como Obra de Arte: a Obra de Arte tem a referência à Natureza na queda, significante, do fabricado na Terra, que a arte, do direto, não tem. A lata brilhante é um sinal passivo, direto e estático, do fabricado. A lata enferrujada está entre o fabricado e a Terra: é não-passiva, dinâmica e analiticamente agressiva, um signo. Um sinal, ou um símbolo, representa um estado e um signo representa uma variação de estados limitados pela insegurança, o desequilíbrio, a incerteza e o medo: não do autor mas do que o rodeia no enfoque global. É o alargamento crítico do signo que o faz dinâmico contra a localização estática do sinal. Se a lata intacta é um representante direto do fabricado uma pedra, um ramo de árvore, ou um arbusto caído são representantes diretos da Terra: também insignificantes. A lata brilhante, limpa e intacta, e a pedra, o ramo ou o arbusto expostos no espaço mais conceituado, não ultrapassam a condição de não-Arte, ou arte. A lata pisada e enferrujada, transposta do inútil, ou decadente, para o útil, é uma Obra de Arte na origem anterior ao crítico, ao curador e ao expositor.

A arte pode ser do objeto pronto (Ready Made) e a Arte é do objeto caindo na Terra, o objeto Na Queda (In The Fall). A lata brilhante, limpa e intacta, o objeto pronto, pode ser exposta como arte e a lata inutilizada, pisada, suja e enferrujada, o objeto Na Queda, pode ser exposta como Arte. O Urinol, de Marcel Duchamp, elevou-se de arte a Arte pelo poluídor sobre o decorativo que não é: ascendeu artisticamente na ascenção de objeto pronto a objeto caindo; quando o mijadouro, o símbolo poluídor, sintetiza a queda dos objetos na Terra. Os outros objetos prontos de Marcel Duchamp têm um valor muito menor que o O Urinol: porque o Urinol expõe-se para o ver, ou olhar duchampiano, e os outros expõem-se para o olhar comum: e esse critério, especificamente analítico, domina sobre todos os outros na classificação da Obra de Arte.

A evolução da Arte Moderna foi a dispersão do Eu e a fuga ao realismo, ao académico e à técnica. A Obra de Arte não é a que traduz um objeto, uma paisagem, uma narrativa, ou a abstração aderente ao artista ou aos outros sem ir mais além. A Obra de Arte não vem da aprendizagem técnica ou académicae sim do que as transcende criticamente. A Obra de Arte é contrária ao decorativo porque a evolução da Arte e da Estética, por mais de 150 movimentos artísticos modernos, assim o determinou. E o Artista não é o que o patrono identificou e sim o que encontrou a sua identidade no progresso estético e artístico. Uma identidade transversal à originalidade, à crítica ambiental e ao expositivo. Pela dispersão do Eu a Arte, indo a Entidade, vai do local ao geral e do indivíduo à espécie.

A evolução particular partindo da precisão matemática e laboratorial conduziu à imprecisão geral. O domínio científico, feito de acréscimos locais, trouxe ao conflito geral: do Homem contra o Homem e do Homem contra a Natureza. A mesma Natureza que os pintores de Barbizon colocaram (conscientemente na abordagem plástica e inconscientemente na transformação estética) na representação artística: quando antes, e desde sempre, era secundária e menor. A evolução da técnica para a não-técnica e da abstração plástica para a abstração critica impõe a Natureza como do significante, na Arte. O aquecimento do efeito estufa e a saturação ambiental estão no limite da evolução académica a que a Arte, da era moderna, se opôs e opõe, com o intenso, o abrasivo e o simplório, do não-neutro, traduzindo o que domina e é dominado e decai progressivamente. A evolução e a involução nas coisas gerais e o contraditório e o significante na Arte e na Arte Quase Bruta no tempo do homem duplo: sábio e bruto.

Na não-técnica a Pintura evoluiu para a exploração plástica, da experimentação dos materiais (Antoni Tàpies) contra a certeza, ou precisão, da técnica. A Forma da Estética tornou-se significante contra os significados das formas das técnicas e das estéticas. Transpondo a beleza objetiva da técnica e das estéticas a Arte atingiu o Belo da abstração subjetiva e da Estética. O Gosto, do presente sobre o do passado, é do Belo do significante e do contraditório, do Conceptual, ou Forma. A Arte evoluiu da imitação alegórica de Sócrates, da técnica, para a não-imitação, da não-técnica. A Estética evoluiu do belo metafísico (contrário à Natureza) de Platão para o belo racional de Aristóteles, para o belo artístico de Baumgarten e o Belo Conceptual (favorável à Natureza) da Arte Quase Bruta. É o impulso ambiental que eleva a forma, o gosto e o belo a Forma, a Gosto e a Belo. A Arte Quase Bruta fixa o Conceptual, dotado da defesa do ambiente, na Forma, no Gosto e no Belo da Estética e da Arte.

No princípio o homem utilizava os objetos da Natureza, ou a Forma Bruta. Com a evolução primitiva da habilidade manual surgiu a Forma Hábil. Depois as exigências ornamentais levaram à Forma Grácil. Seguiu-se a Forma Estética (Platão), a Forma Artística (Alexander Baumgarten) e a Forma Conceptual (Arte Quase Bruta). A Forma da Estética veio da evolução das formas bruta, hábil, grácil, estética e artística, do primário grotesco (não-ideológico) para o final ideológico: o que agrega, indiscutivelmente, o Conceptual à ideia. Pela Forma Conceptual, do contraditório, do significante e do crítico a Arte Quase Bruta dilui-se no que a precedeu no respeito pelo domínio do que nos envolve, da Natureza sobre a Natureza Humana. A Natureza do bosque de Fontainebleau plastificou-se

no Impressionismo, expressou-se no Grito de Munch e cristalizou-se no Conceptual da Arte Quase Bruta fechando o ciclo, ou círculo, do fim ligando-se ao princípio, pela Arte. O Hábil e o Grácil, associados à forma, ao belo e ao gosto, foram transpostos: e a presença do Hábil e do Grácil nos 2400 anos de Arte seguintes a Apeles foram da evolução da técnica na não-técnica. A Estética e a Arte, pelo Conceptual (que inclui a Forma Bruta: não pelo uso dos materiais e imagens naturais e sim do seu contrário, o sintético: do bruto), deram um passo além da arte e da estética utilitárias e ornamentais.


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Pelo desenho, a fotografia, o vídeo, as artes, ou a técnica, pode-se mostrar o submarino nuclear naufragado em 1989 no mar de Barents:(3) mas não se pode mostrar a radioatividade que irradia e irradiará sempre no ambiente marítimo e global.(4) E pode-se mostrar a central nuclear de Almaraz: mas não se podem mostrar as cinzas radioativas que blindou nem a radiação que lançou e lança no Tejo contra as suas fauna e flora. Mas uma marinha alterada, corrosiva e deformada pode sugerir e representar a contaminação radioativa do K-278; mas a chuva de Máscaras Bizarras, do expressionismo de Susana Rosa, pode sugerir e representar as águas radioativas que as torres de arrefecimento de Almaraz lançaram e lançam no Tejo: tudo depende do olhar, que vai de acrítico a crítico, de quem observa. A Arte tende a representar, no não metafísico, não espiritual e não metafórico, o que as artes não atingem. O Mural, a primeira abstração pollockiana, foi executado em 1943 e as bombas atómicas little boy (urânio-235) e fat man (plutónio-239) que arrasaram a cinzas as cidades de Yroshima e Nagasaki foram em 1945:(7) (8) mas o salpicado de O Mural pode sugerir e representar os destroços atómicos das duas cidades distantes de si dois anos. E a abstração pollockiana vai mais longe: ela, o jardim cáustico, sugere, ou representa, o caos: o ponto distante (?) para que tende o Estado Crítico. O olhar do observador sobrepõe-se ao olhar do criador e o seu presente sobrepôe-se ao momento da criação: numa transcendência dupla: analítica e temporal. É essa duplicidade, da abertura presente na Obra de Arte, que eleva a abstração conceptual ao Coceptual Abstrato. O Mural foi feito num ato rebelde de Jackson Pollock face às exigências de Peggy Guggenheim: não teve, na sua origem, nenhuma finalidade crítica e nenhum impulso expressionista: foi o andamento do tempo e da Estética, na conversão do gosto em Gosto, pela Razão, que sobrepôs o olhar crítico ao acrítico da abstração inicial dinamizando-a artisticamente.

O homem evoluiu para a tecnologia e a cognição contraditórias no tempo do aqueciento glogbal e de mais calor artificial.(9) Na tecnologia, enquanto a crise ambiental, o homem entrou no Estado Crítico: da queda para o caos. Na cognição contraditória o homem entende o Estado Crítico e não o nega oportunamente. Na era científica, da cognição e da tecnologia, os rebentamentos do dia a dia, dos testes nucleares e da guerra libertam, na forma de calor, a energia inerte da matéria: calor que não se perde e se acumula na estufa do aquecimento global. A Arte no Estado Crítico tem de expressar-se contra o Estado Crítico: não pode ser a arte que o precedeu. A Razão, da Estética e da Arte Quase Bruta, é da negação do Estado Crítico e não do que o originou.

A Arte Bruta (1945) é a arte criada por artistas portadores de carências mentais, ou por outros (como Jean Dubuffet, seu fundador), imitando-os.(12) Contrariamente a Arte Quase Bruta é a arte feita por artistas conscientes, ou não alienados, sobre a alienação humana, o estado moderno e da aproximação ao Caos. O mesmo consciente que impõe o contraditório e o significante na Arte e vê o Urinol, de Marcel Duchamp, não como um objeto metafórico e mediatizado e sim como o símbolo poluidor, entre a micção humana e a Terra. Na Arte Quase Bruta o domínio do consciente sobre o neutro traduz a ideia sobre a não-ideia, o absurdo e a anarquia artística e estética. O grito da Natureza, de O Grito, de Edvard Munch, o sofrimento de todas as mulheres, de Mulher a Chorar, de Pablo Picasso, e o grotesco invertido, do Belo contra o belo, de Mais Loiras, de Georg Baselitz, são consciências expressionistas tendentes ao significante artístico da Arte Quase Bruta de mim mesmo, de Eusébio Almeida e de Susana Rosa (pintores associados deste manifesto): e dos que seguirem a sua corrente.


1 https://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_de_Barbizon

2 https://pt.wikipedia.org/wiki/Arts_%26_Crafts

3 https://pt.wikipedia.org/wiki/K-278_Komsomolets

4 A meia-vida do plutónio 239 é 24000 anos e a meia vida do urânio 235 é 703800000.(5) (6) A meia-vida obedece a uma progressão geométrica de razão 1/2. 100 quilos de resíduos nucleares de plutónio-239 reduzem-se a 50 quilos decorridos 24000 anos., a 25 quilos decorridos 48000 anos, a 12,5 quilos decorridos 72000 anos e assim sucessivamente, nunca atingindo o zero e mantendo-se sempre a radioatividade e a libertação de calor. 100 quilos de resíduos de urânio-235 reduzem-se a 50 quilos decorridos 703800000 anos, a 25 quilos decorridos 1407600000 anos, a 12,5 quilos decorridos 2815200000 anos e assim sucessivamente, nunca atingindo o zero e mantendo-se sempre a radioatividade e a libertação de calor.

5 https://pt.wikipedia.org/wiki/Plut%C3%B4nio-239

6 https://pt.wikipedia.org/wiki/Ur%C3%A2nio-235

7 https://en.wikipedia.org/wiki/Mural_(1943)

8 https://pt.wikipedia.org/wiki/Bombardeamentos_at%C3%B4micos_de_Hiroshima_e_Nagasaki

9 As bombas little boy e fat man detonaram o equivalente a 15+21=26 quilotoneladas (10^3) de TNT. Uma tonelada de TNT liberta 4,184X10^9 Joules de energia e um joule de energia equivale a 0,00053 graus centígrados de calor.(10) (11) Uma tonelada de TNT liberta (4,184X10^9)X0,00053=2,21752X10^6 graus centígrados de calor. As duas bombas atómicas libertaram para a atmosfera do aquecimento global cerca de 26X10^3X2,21752X10^6=7,983072X10^10 graus centígrados de calor. As detonações de TNT na segunda guerra mundial libertaram cerca de 2,264040X10^13 graus centígrados de calor. A tsar bomb detonou o equivalente a 57 megatoneladas (10^6) de TNT.(11) O calor que libertou foi 57X10^6X2,21752X10^6=1,2639864X10^14 graus centigrados de calor. A tsar bomb, um teste atómico num só segundo, lançou mais de 5 vezes mais calor para a atmosfera do aquecimento global que uma infinidade de detonações (por terra, mar e ar) de TNT nos 6 anos da segunda guerra mundial.


10 https://pt.wikipedia.org/wiki/Equivalente_em_TNT

11 https://citizenmaths.com/pt/energy-work-heat/joules-to-celsius-heat-units

12 https://pt.wikipedia.org/wiki/Arte_bruta

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5 Novembro 2019

Arsénio Rosa