I
INTRODUÇÃO
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A Estética é a disciplina da Arte. A disciplina da Arte, como a
disciplina de qualquer outra área ecolar, segue um padrão racional e não se
dispersa irracionalmente. Mas, regra geral, dizem que a Estética tem a ver com
o gosto de cada um. Se a Estética variasse pelo gosto de cada um haveria uma
infinidade de estéticas, uma dispersão irracional do seu significado e uma
anulação da sua natureza disciplinar. Contudo a Estética é uma disciplina e
cada indivíduo tem a sua estética distinta das estéticas dos outros: o que nos
leva a concluir que há a Estética, disciplina da Arte, e a estética, do gosto
de cada indivíduo. E para responder ao gosto de cada indivíduo cada ofício,
como a do calçado, do vestuário e do mobiliário têm a sua estética adaptada.
Pelo que há a Estética da Arte, as estéticas dos indivíduos e as estéticas dos
ofícios.
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Estética, este livro, aplica, fundamentalmente, o Método Indutivo na análise da Arte, da Estética e da Obra de Arte. O Método Dedutivo, anterior a Descartes e ao racionalismo, parte duma verdade absoluta, Deus, para, partindo dela, deduzir como verdade todas as outras. Por essa verdade metafísica o universo foi uma criação de Deus, o homem foi uma criação de Deus, a Arte foi uma criação de Deus e a Obra de Arte, é uma criação de Deus; por essa relação dedutiva Platão, nas origens da Estética, concluiu que a Obra de Arte era inalcançável pelo duplo afastamento sensorial, entre o objeto imitado e a sua imitação: fantasia que vem desde há cerca de 2400 anos e que Estética nega pondo a Obra de Arte no seu lugar criativo, alcançável, do racional. No Método Indutivo a dúvida sobre uma realidade leva-nos à sua análise experimental e à certeza da realidade que lhe é subjacente: e assim sucessivamente conforme a cadeia das coisas relacionadas. Pelo Método Indutivo este livro analisa o que é a Arte e a Estética desde as suas origens concluindo o que as dirige em cada momento histórico até ao presente: a Arte Moderna depois de cerca de 170 movimentos artísticos vindos desde 1848, da Escola de Barbizon. É a análise do andamento histórico que nos diz o que é a Arte e a Estética em cada momento contra a classificação ditada, ou deduzida, pelo agente artístico como substituto da verdade absoluta.
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Um indivíduo adquire um objeto, uma forma, uns sapatos, um casaco, uma cadeira, levado pelo seu gosto ornamental, a ideia de beleza que satisfaz o seu dia a dia. Como os gostos variam multiplamente de uns para os outros há uma dispersão incalculável de formas de calçar, de vestir e de mobilar contornando uma dispersão equivalente de gostos, de formas e de belos: isso na análise do indivíduo, ou do gosto, para o objeto, ou forma. Analisando opostamente, partindo da forma, há uma dispersão enorme de ofertas de sapataria, de vestuário e de mobiliário, para satisfazer todos os gostos: há, consequentemente, uma estética associada a cada variante ornamental, ou a cada ofício. Há a estética do mobiliário, há a estética da arquitetura, há a estética da chapelaria e por aí fora, sem restrições. Na Arte os gostos também se dividem: há quem só goste de arte abstrata, há quem só goste de arte clássica, há quem só goste de arte naif e há quem só goste de arte figurativa, com essa dispersão dos gostos, das formas e dos belos negando a racionalidade disciplinar da Arte: o que nos diz que é a Estética que dirige os gostos e não os gostos que dirigem a Estética, na Arte. Se é a Estética, a disciplina da Arte, que dirige os gostos artísticos ela tem um só gosto: o Gosto. Se é o Gosto da Estética que dirige as suas formas estas centram-se numa só forma: a Forma. O Gosto e a Forma da Estética determinam o seu Belo. Assim que o Gosto, a Forma e o Belo são da Estética e o gosto, a forma e o belo são das estéticas, individuais e dos ofícios. A Forma, o objeto artístico, ou Obra de Arte, é exclusiva da Arte; o Gosto, um só na multiplicidade de criadores artísticos, é da Estética; o Belo, obtido da apreciação da Forma pelo Gosto, é da Estética: é a sensibilidade associada ao Gosto e ao Belo depois da Forma que faz da Estética a Entidade (disciplinar) da Arte. O Gosto da Estética, que determina a sua Forma e o seu Belo, é o Gosto ditado pela Vanguarda do seu momento: a Vanguarda, que dirige o Gosto para o Gosto e o Belo para o Belo seguintes, une a Arte à Estética determinando o que é a Obra de Arte na Arte Moderna: porque a noção de Vanguarda nasceu com a Arte Moderna, pela Escola de Barbizon, em 1848.
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Se as estéticas são muitas, múltiplas e variadas, contornando os
indivíduos e os ofícios, e a Estética é única, da Arte, na pirâmide social as
estéticas são do seu corpo e a Estética é do seu vértice: da vanguarda de cada
momento histórico, artístico e social: porque, muito embora muitos indivíduos
sejam indiferentes à Arte, é ela que nos dirige partindo da arte do sentir, do
olhar e do fazer. Isso diz-nos que as estéticas são da dispersão, da diversão
humana, e a Estética é da sua direção, da razão social. Uma direção distinta da
política: uma vez que esta se dispersa por fações partidárias de esquerda, do
centro e de direita repartidas por interesses associados, empresariais,
ideológicos e religiosos, cada um com a sua estética, enquanto a Estética é
única. Interpretar a Estética parte da interpretação do Gosto, da Forma e do
Belo, do modo como se isolaram das formas, dos gostos e dos belos da
irracionalidade ornamental para a racionalidade disciplinar, ou da dispersão
para a unicidade.
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