VI OS PONTOS 1, 2 e 3 DA LINHA DA ESTÉTICA.
Em Sócrates, com o escalar do belo sobre a beleza da alegoria da imitação, ocorreu o ponto número 1 da Estética. Por Platão, há mais de 2350 anos, com o duplo afastamento na imitação e o inatingível do Belo ocorreu o ponto número 2. Ao fixar-se o segundo ponto criou-se a linha da Estética. Por Aristóteles, há mais de 2320 anos, com a inclusão da crítica na imitação artística e a queda do Belo do inalcançável para o terreno, ocorreu o ponto número 3 da linha da Estética. Ao separar o teatro crítico do acrítico Aristóteles não negou a arte à comédia: afirmou sim que na estética do Teatro a tragédia tinha o impulso da Arte que a comédia não tinha: a crítica. O que fez foi distinguir a Arte, crítica, da arte, acrítica, aquela dirigida pelo impulso ideológico fundamental e esta do entretimento, do decorativo, dp hábil e do útil. Foram 3 demarcações ideológicas, dadas pelo pensamento de três filósofos, na origem do andamento estético, da separação da Estética das estéticas e da Arte das artes, ou ofícios. Os pontos seguintes, até à Arte Moderna em 1845, não nasceram de impulsos individuais e sim de transformações históricas: mas em todos eles esteve presente a crítica. A crítica foi o elemento da continuidade linear da Estética que só sofreu uma descontinuidade com o Barroco.
VII OS PONTOS 4, 5 e 6 DA LINHA DA ESTÉTICA.
A crítica imposta por Aristóteles na Arte esteve ausente durante cerca de 16 séculos e só emergiu com o humanismo renascentista: do Decameron (escrito entre 1348 e 1353) de Giovanni Boccaccio (1313/1375), que ridicularizou o eclesiástico na negação da beatitude bizantina; da pintura de Giotto (1267/1337); e da invenção da imprensa (1430/1440) por Johan Gutemberg(1394/1650): depois da Comédia de Dante Alighieri (1265/1321) ser rebatizada, por Bocccaccio, de Divina Comédia. Com o Renascimento, há cerca de 674 anos (1350/1615)), ocorreu o ponto número 4 da linha da Estética. A crítica artística associou-se à critica literária num andamento não orientado individualmente como os anteriores e sim por variantes sociais e históricas. A crítica artística da origem renascentista apagou-se no seu momento ofuscada pela evolução técnica da Arte e só ressurgiu com Tintoretto e Caravaggio no Maneirismo, ou Renascimento tardio, cerca de 1515.
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Com o Maneirismo (1515/1599) ocorreu o ponto número 5 da linha da Estética. Nele convergiram diversas variantes na reivindicação de novas formas de representação artística negando o classicismo renascentista: no uso de cores não naturais; na distorção simétrica das figuras e no seu alongamento; na crítica dupla, ao religioso e ao homem aristocrático; (1) na entrada das mulheres na Arte ; (2) e na crítica ao religioso com a plasticidade manchada em escuro e claro de Tinttoreto. (1) Plantilla Nelli (1524/1588), freira em Florença, criou uma escola de pintura para freiras no convento. Catharina Hemesen (1528/1578) foi a primeira mulher a executar auto-retratos e a trabalhar como pintora oficial para uma corte (de Espanha depois de 1554). (2) Numa última ceia de Tintoretto (1518/1599) Jesus não é a figura central na mesa; a figura central do quadro é um cão que ladra para o ajuntamento bíblico: com as imagens descoloridas em mancha muito distante da nitidez clássica renascentista anterior. Ladrando para a cena o cão nega-lhe o sagrado e eleva a sua irracionalidade(?) animal sobre a racionalidade (?) humana no metafísico. A crítica geral maneirista e a crítica religiosa de Tinttoreto e Caravaggio sucederam a crítica religiosa de Giotto estagnada durante os 1615-1350= 265 anos da evolução técnica renascentista.
Atribui-se o Renascimento ao período entre +/- 1350 e 1599 e o Maneirismo entre +/- 1515 e 1599: inclui-se o Maneirismo no Renascimento Tardio. O Renascimento, pelas críticas de Giotto, de Bocacio e de Dante e a negação da lei fatalista de Aristóteles, floresceu das trevas medievais: mas só no nascimento. As traduções bíblicas fiéis de Leonardo da Vinci, de Miguel Ângelo e de Rafael, que representam a arte renascentista, não têm o impulso giottiano: pelo contrário o seu classicismo é técnico, sumariamente religioso e não crítico. Poderá dizer-se que o classicismo, multiplamente negado na movimentação da Arte Moderna de mais de 500 anos depois, é não humanista vindo da origem do humanismo. E as artes de O Príncipe, e de A Revolta dos Ciompi, de Nicolau Maquiavel (1469/1527), mostram que a política renascentista é da desigualdade pelo emprego arbitrário da força desumana do forte contra o fraco: o oposto do humanismo de que emergiu. E o Maneirismo, de 1515 a 1599, evoluiu com a crítica social, com a mancha abstrata e a crítica bíblica de Tintoretto, com a agressividade anti-religiosa de Caravaggio e o grande passo humanista, a inclusão das mulheres na Arte: um novo segmento da Estética distinto do Renascimento. No Maneirismo ocorreu o ponto número 5 da linha da Estética.
No Maneirismo final houve a crítica de Caravaggio. Caravaggio (1571/1610). colocou nas figuras de Santa Catarina de Alexandria no quadro com esse nome (1598/99), de Judite em Judite Decapitando Holofernes (1599) e de Maria Madalena em Marta e Maria Madalena (1598), figuras bíblicas incontornáveis do idealismo católico e cristão, o retrato de Filide Meladroni, meretriz, ou prostituta. O seu expressionismo crítico foi explícito nesses três quadros porque o Retrato de uma Cortesã, com o mesmo rosto, de Filide Meladroni, iniciou-se antes deles (1597/1599). A sua pintura dramatiza-se no contraste do claro e escuro não clássico, não renascentista e não maneirista, do Barroco. No quadro Marta e Maria Madalena, de 1598, o pente de Maria Madalena tem um dente partido. Porque razão pintou Caravaggio o pente da cortesã da elite romana sem um dente? Sendo o marfim de dente de elefante ou de morsa o pormenor foi, muito provavelmente, a crítica à crueldade, desumana, do homem para os animais. Se assim foi a crítica ao desequilíbrio ambiental, do tempo atual e da Arte Moderna que contém a crítica à agressividade para com os animais (explicitada em Francis Bacon (1909/1992)), nasceu na transição do Maneirismo para o Barroco, há cerca de 425 anos, com Caravaggio.
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