Algoritmo numérico

Algoritmo numérico
Algoritmo numérico

quarta-feira, 28 de maio de 2025

ESTÉTICA XV XVI

XV DO PONTO NÚMERO 12 PARA O NÚMERO 13 DA LINHA DA ESTÉTICA. DA VANGUARDA IV PARA A VANGUARDA V DA ARTE. O ANDAMENTO RACIONAL, EM LINHA, DA VANGUARDA I PARA A VANGUARDA V E DO PONTO 1 PARA O PONTO 13 DA ESTÉTICA. A DEFESA AMBIENTAL NA VANGUARDA DA ARTE E DA ESTÉTICA. ARTE CRÍTICA.

 126

Posteriormente a 1963 ocorreram cerca de 44 movimentos artísticos. 1964: Arte Op. 1965: Acionismo Vienense. 1960/79: Instalação. 1960/70: Funk Art. 1960/70: Novo Brutalismo. 1960/70: Formalismo.1960/70: Arte Povera.1960/70: Maximalismo.  1960/70: Body Art. 1960/70: Videoarte.  1960/70: Nova Figuração Brasileira. 1966: Grupo Rex. 1968: Land Art. 1968: Pintura Tingatinga. 1968: Hiper-realismo. 1968: Graffiti. 1970 (?): Neofuturismo . 1970: Conceitualistas de Moscovo. 1970: Sots Art. 1971:Pós-minimalismo. 1974: Arte estrambótica. 1970/80: Apropriacionismo. 1970/80: Street Art. 1970/80: Pattern and Decoration. 1978: Bad Painting. 1978: Grupo Casa 57. 1979: Transvanguardia. 1979 (?): Surrealismo-pop. 1981: Neo-expressionismo. 1982: Homeoestética. 1983: Pitura Cotta. 1980/90: Arte Neo-geométrica. 1980/90: Grupo Casa 7.  1990/00:British Junk Art. 1990/00: Internet Art. 1996:; Arte Relacional. 1999: Stuckismo. 1999: Antiantiarte. 1999: Neo-minimalismo. 2008: Versatilismo. 2011:  Google Art Project. 2014: Pop Stram. 2010: Excessivismo. 2019: Arte Quase Bruta ou Arte Crítica. Urge observar quais foram os movimentos significantes e neles qual foi o mais significante. O mais significante deu origem à Vanguarda V da Arte e ao ponto número 13 da Estética.

 127

Foram Insignificantes os 35 movimentos seguintes. Acionismo Vienense. Movimento interventivo usando a provocação aberta à ordem pública. Confronto performativo com os observadores. Confronto aberto com a polícia. Negação total da arte académica e convencional. Uso do obsceno, do imoral e da sujidade orgânica humana nas intervenções. Não foi crítico do artificial, da guerra e do Estado Crítico. Não adquiriu estatuto global e não interferiu no rumo da Arte e da Estética. Funk Art. Centrado na negação da subjetividade do Expressionismo Abstrato defendeu a negação da Arte pela arte inspirado na música Funky. Sumariamente foi um movimento crítico de outro movimento e irrelevante na evolução da Arte e da Estética. Novo Brutalismo. Movimento sobretudo da construção, utilitário e não decorativo usando o betão nu. Teve influência na Estética da Arquitetura. Formalismo. Porque se limitou a negar o Minimalismo, uma variante do Expressionismo Abstrato e da Estética Concetual, a favor duma fantasia barroca e espiritual. Centrado na negação de outro movimento foi esteticamente acrítico. Nova Figuração Brasileira. Porque inspirado na Pop Art negou o Minimalismo a favor da figuração, da cor, da fantasia e da liberdade de expressão artística. Grupo Rex. Arte misturada de diversos movimentos como a Pop Art, o Minimalismo, o Accionismo Vienense e o Assemblage, foi crítico na linha das secessões mas acrítico ao Estado Crítico. Pintura Tinga-tinga. Por ser pintura acrítica, colorida e ingénua da paisagem africana. Hiper-realismo. Foi insignificante porque negou o abstracionismo concetual, opondo o hábil ao crítico e voltando à imitação 1968-1826=142 anos depois da origem da máquina fotográfica. Graffiti. Movimento parietal decorativo, invasivo, rebelde e acrítico. O protesto social e étnico das suas origens, que não é das competências da Arte e da Estética desde o Esteticismo, foi absorvido pela invasão ilegítima. Movimento agressivo em paredes clandestinas e legítimas porque nega a espontaneidade da paisagem ao olhar corrente. Conceitualismo de Moscovo. Movimento de oposição ao Realismo Socialista e de abertura da arte russa à arte ocidental. Foi esteticamente acrítico. Sots Art. Movimento adaptado da Pop Art à crítica à arte russa convencionada politicamente. Foi acrítico ao Estado Crítico, à guerra e ao artificial. Pós-minimalismo. Limitou-se à negação da abstração do Minimalismo. Usou materiais frágeis associados à pintura contra a durabilidade dos materiais minimalistas. Não criticou o Estado Crítico do srtificial e da guerra. Arte Estrambótica. Pintura figurativa acrítica. Inspiração, sem as vertentes negra, surrealista e metafísica, nas pinturas de Hieronymos Bosch e Salvador Dali. Figuras híbridas de humano com animal partindo do corpo humano. Apropriacionismo. Apropriação do que é do outro pelo acréscimo de registos individuais mínimos. Movimento transversal contraditório, no sentido negativo e não artístico, admitiu o plágio favorecendo os pares. Usou a crítica do burlesco contra a crítica artística ou neocrítica. Street Art. Arte variada de entretimento, acrítica, de rua urbana. Pattern and Decoration. Uso dos padrões dos tecidos na composição artística. Elevação a Arte da arte dos tecidos considerada feminina. Minimalismo decorativo contra o minimalismo crítico. Grupo Clube 57. Grupo exclusivamente expositivo aberto a todas as áreas e tendências artísticas.  Indiferente ao Estado Crítico e acrítico. Transvanguardia. Opôs-se ao minimalismo concetual do abstracionismo e da Arte Povera a favor do retorno ao figurativo e ao clássico remotos. Uso da colagem de fragmentos de obras de outros artistas para a composição da obra de arte. Movimento conservador e acrítico. Surrealismo-pop. Seguimento da Transvanguardia a favor das artes barroca, maneirista e renascentista. Movimento esteticamente acrítico. Homeoestética. Inexistência de forma e de belo dada pela dispersão dos gostos dos elementos do grupo nascido da rivalidade entre grupos. Sem direção estética e acrítico. Recorrência ao elogio da boémia, da paródia e do riso da irreverência dadaísta inicial. Negação da originalidade artística a favor do alinhamento acrítico paternalista. British Junk Art. Movimento radical da arte do lixo no uso de materiais em decomposição orgânica e sujos do uso e de secreções humanas. Elevação acrítica do decadente ao estético. Arte Relacional. Movimento acrítico centrado nas experiências quotidianas  do homem. Stuckismo. Arte critica direcionada e esteticamente acrítica. Negação da interseção Duchamp e Dadaísmo. Defesa da Antiantiarte na negação da  Antiarte dadaísta e duchampiana como não-Arte. Antiantiarte. A Antiantiarte do Stuckismo negou Antiarte dadaísta e duchampiana e o Concetual Estético fixado na Vanguarda III. Neo-minimalismo. Negou o Expressionismo Abstrato e a crítica ao Estado Crítico. Pop Stram. Exploração figurativa burlesca, acrítica e híbrida, com o animal e o imaginário centrados na figura humana. Excessivismo. Crítica ao modernismo pela figuração pormenorizada excessiva.

 128

Foram Com Significado os 9 movimentos seguintes. Arte Op. Abstração geométrica acritica dirigida à ilusão ótica. Domínio do olhar sobre a ideia. Limitação ao olhar sem ir ao ver duchampiano. A Op Art  vingou como movimento artístico. Instalação. Não foi um movimento e sim uma nova forma de expressão artística exclusiva e misturada de todas as outras áreas da Arte, como o vídeo, a pintura e a escultura. Vingou como meio artístico. Body Art. Arte centrada no corpo humano autoral. O corpo como veículo da tinta para a tela na pintura. Uso do corpo em performances, happenings, na fotografia e no vídeo. Movimento acrítico ao Estado Crítico mas autónomo. Vingou como movimento. Videoarte. Não foi um movimento e sim uma ferramenta tecnológica adotada pela Arte. Neofuturismo. Movimento arquitetónico focado na construção vertical e adimensional. Edifícios de grande altitude respondendo às necessidades urbanas modernas. Movimento do útil, da necessidade do alojamento urbano moderno, da estética da arquitetura. Pittura Colta. Pintura crítica à arte conservadora usando a ironia sobre imagens dos mestres do renascimewnto, do Maneirismo e do Barroco. Uso de paisagens clássicas adulteradas ironicamente com o excesso de cor. Movimento acrítico ao Estado Crítico foi crítico do conservador, do académico e do patrono na Arte negados pela grande maioria dos movimentos desde 1848. Internet Art. A modernização da arte pela informática era uma exigência da era dos computadores. Movimento livre e acrítico do Estado Crítico, do artificial e da guerra. Google Art Projet. O Google, ou uma plataforma cibernética, como meio expositivo universal, era uma exigência moderna dos utilizadores.

 129

Foram significantes os 7 movimentos seguintes. ARTE POVERA. No uso declarado de materiais pobres como papéis, trapos, areia, cartões, terra e jornais, sintetizou a tendência crítica do empobrecimento da Obra de Arte transversal a outros movimentos expressionistas vindos da vanguarda III. Negou o artificial, do industrial, na defesa do Ambiente pelo empobrecimento contraditório da Obra de arte. Elevou o sensitivo sobre o formal na definição da Forma. LAND ART. Arte ambiental e da negação do Estado Crítico: só porque excluiu todos os materiais artificiais usando exclusivamente os da terra. A exclusão do artificial a favor do natural atingiu o limite na substituição da galeria clássica pelo campo/galeria. BAD PAINTING. Afirmação concetual, da Estética do Concetual, posterior às vanguardas III e IV, do Belo do ruim da Forma sobre o belo do ruim da forma. Negou o belo da perfeição e realismo convencionais a favor do Belo crítico. Afirmação do contraditório crítico na Obra de Arte pelo grotesco, o agressivo e o básico da brutalidade humana vindos do Expressionismo Alemão. Reafirmou a forma expressionista agressiva, berrante e feia: não do pessimismo, o oposto ao otimismo, mas da negação artística ao otimismo que trouxe ao Estado Crítico e ao Estado de Emergência da crise ambiental. NEW WILDE ou Neoexpressionismo Alemão. Reclamou as variantes do Expressionismo Alemão como dirigentes da Arte e da Estética pela Pintura. Reclamou a Pintura como dirigente da Arte e da estética no seu tempo: conforme o apuramento estatístico da Arte Moderna. Críticou à bestialidade humana. Domínio do emocional e do subjetivo sobre o formal na análise artística. Seguiu as técnicas livres dos movimentos dominantes, como o Minimalismo, o Informalismo e o Gestualismo, na evolução da Estética moderna. ARTE NEOGEOMÉTRICA. Criticou o consumismo, as tecnologias e o artificial conforme as exigências ambientais da Estética. Simpatia pela pintura de grande formato, na lógica do mamaraxo, com signos soltos sobre fundos coloridos planos. Usou o signo contraditório negando o contraditório humano. GRUPO CASA 7. Seguiu o expressionismo crítico dos movimentos dominantes posteriores a 1945. ARTE QUASE BRUTA ou Arte Crítica. A Arte Quase Bruta, de minha autoria e com o manifesto seguidamente publicado, sintetiza a defesa do Ambiente, a principal prioridade de todos os setores da decisão humana, na vanguarda da Arte e da Estética.

 130

 AArte Crítica, ou Arte Quase Bruta, ao fixar a defesa ambiental como prioridade da Estética determina a Vanguarda V, da Arte, e o ponto 13, da Estética. A crítica que defende é a neocrítica vinda do Expressionismo Alemão da negação da agressão pela imagem agressiva, da negação da guerra pela paisagem destruída pela guerra e do retrato, e paisagem, grotescos afirmando o homem bruto,

 e diabólico, que atingiu o Estado de Emergência do Estado Crítico. A sua neocrítica é da crítica da arte abstrata aberta à análise concetual e ao ver sobre o olhar dos domínios dadaísta e duchampiano adotados pela evolução da Arte Moderna seguinte a 1916. Nega, conforme a crítica da maioria dos movimentos, os princípios da Arte Contemporânea que trouxeram ao Neoneokitch, à falsificação da Obra de Arte e à sua valorização paternalista e especulativa. Agrega à crítica da Arte, vinda de Aristóteles de há cerca de 2400 anos, a crítica ao artificial, vinda de Barbizon, e à guerra, vinda do Dadaísmo, presentes no Abstracionismo Pollockiano, ou Abstracionismo Concetual, máxima no Sun In Your Head e inexistente em nenhum dos outros movimentos posteriores à Vanguarda IV. Na crítica á guerra e à saturação ambiental luta contra o Estado de Emergência como um estado global de guerra: que é o que as associações ambientalistas, alinhadas na política geral das nações e das outras organizações, não fazem. A Arte Quase Bruta é, sinteticamente, a Arte Crítica pela neocrítica da arte Moderna. E é da Arte Crítica ao homem em queda pelo Objeto-em-Queda depois do Ready-made, depois do hábil, do grácil e do decorativo, no lado oposto da linha que nasceu há cerca de 2400 anos com a imitação de Sócrates.

 

 XVI MANIFESTO DA ARTE QUASE BRUTA. OU MANIFESTO DA ARTE CRÍTICA.

 131

Em 1848, inspirados na pintura de Jonh Constable, os pintores da Escola de Barbizon elegeram a Natureza pintando-a diretamente no campo.(1) A Natureza, sobre a Natureza Humana, fixou-se, a partir daí, na Arte. Esse domínio expressou-se na arte fundamental: por Pablo Picasso: Guernica traduziu o animal sobre o homem no humano; o grito, de O Grito, de Edvard Munch, foi o grito da Natureza sobre a Natureza Humana; e A Fonte, de Marcel Duchamp, representou o Homem Poluidor da Natureza (ou poluidor ambiental) sobre todas as variantes que lhe associaram. O Ambiente, motivo primeiro da preocupação global de hoje, não é de hoje na Arte: é dos princípios da Arte Moderna nascida da consciência do domínio da Natureza sobre o Homem. William Morris, na década de 1880, na Inglaterra, fundou o movimento Arts & Crafts preocupado com a poluição industrial crescente.(2) A Arte Quase Bruta impõe-se como corrente artística consciente do Problema Ambiental e sintoniza a preocupação global do século XXI com a evolução da Arte e da Estética.

 132

A evolução da Arte Moderna, das correntes mais plásticas e geométricas, como o Fauvismo e o De Stijl, às mais interventivas, como o Accionismo Vienense e o Fluxus, às exclusivamenre reivindicativas, como as secessões de Berlim e de Viena, opôs-se à arte imposta por pares, ou grupos, académicos, mercantis e institucionais. Contudo, a Arte Contemporânea, iniciada na década de 1940 (?) para o domínio artístico de hoje, é dos pares: em tudo idênticos aos antigos, aos que a Arte Moderna, de sua origem, se opôs. A Arte Quase Bruta opõe-se às corporações elitistas a favor da verdade da Arte e da Estética e elege a Obra de Arte na origem: antes do Expositor, do Curador e do Crítico.

 133

A evolução da Arte Moderna, sobretudo pela Pintura (disciplina dominante na quase totalidade dos movimentos artísticos modernos (> 174)), convergiu no extremo oposto do realismo, no Conceptual: na ideia. A Arte é, consequentemente, ideia. E se a Arte é ideia um novo movimento artístico tem de nascer da ideia e não de um bando eleito, artístico, académico, ou de cabaré. E a Arte Quase Bruta, deste manifesto, nasceu da ideia; da minha ideia sobre a pintura de Eusébio Almeida em consonância com as exigências da Arte e da Estética: original, conceptual no significante, não-neutra. A Arte Quase Bruta é da ideia: da Estética, da Arte e da maximização cognitiva que o Homem atingiu na atualidade.

 134

Arte Quase Bruta para uma corrente artística nasceu dessa mesma inscrição no quadro O Mendigo Revoltado de 2017 (e recorrente noutras obras) do Pintor Eusébio Almeida. Arte Quase Bruta e outras inscrições, como Ninguém é Obrigado a Ser Feliz, O Naufrágio da Europa, Poesia Ortopédica e Masturbação  Mental, são signos  linguísticos e contraditórios  da  Obra de Arte e do estado atual. Hoje, século XXI, quando a Arte evoluiu para o conceptual, a arte de vanguarda é do Conceptual: não do conceptual direto, o que se concebe no fazer comum, mas do conceptual que transcende os significados

e o comum, do significante, ou contraditório. O Conceptual é da crítica significante na era do Estado Crítico onde o Homem, pelo aquecimento global, nega o poder regenerador da Terra. A Arte Quase Bruta é do Antropoceno contra o Antropoceno.

 135

O Mendigo Revoltado refere-se ao homem preso no mundo livre (?) em que nasceu. O Mendigo Revoltado remete para a alienação social que inclui a artística, dos cartéis, ou corporações, onde entra no lugar da originalidade o não-original, no lugar da Arte a não-Arte e no lugar da força a apatia, dos pares. O Mendigo Revoltado é do tempo do ver sobre o olhar quando domina o olhar sobre o ver. O Mendigo Revoltado impõe a razão estética na análise da Obra de Arte. É essa razão, dada por aquilo  para que a Estética evoluiu, que eleva o ver duchampiano sobre o olhar retiniano. O Mendigo Revoltado é do homem conceptualizado pelo Estado Crítico nascido do projetado, do programado e do calculado. O Mendigo Revoltado é da era da esperança individual máxima e da esperança coletiva mínima. A Arte não morreu e, contrariamente, dá voz ao Mendigo Revoltado e à Arte Quase Bruta.  

 136

A Arte Quase Bruta parte, basicamente, da agressividade, ou não-passividade, das composições como signos que podem ser ou não enriquecidos pela grafia contraditória. O signo artístico é o sinal dinâmico e crítico sobre o sinal estático: do significante sobre o significado e do contraditório sobre o direto. O significado, que implica o insignificante e o direto, são do sinal estático, decorativo e acrítico; e o significante com o contraditório são da Estética, da Arte e do signo crítico. São o significante sobre o significado e o contraditório sobre o direto que abrem a Obra de Arte às ideias, ao Conceptual, partindo da crítica artística. A composição estática, como símbolo, ou sinal, sem signo, não é Obra de Arte: não é Arte. É a presença consciente do signo na Arte Quase Bruta que a faz da vanguarda artística 

 137

Uma lata brilhante, limpa e intacta, pode ser exposta como arte; uma lata inutilizada, pisada, suja e enferrujada, com encaixe expositivo, pode ser exposta como Obra de Arte: a Obra de Arte tem a referência à Natureza na queda, significante, do fabricado na Terra, que a arte, do direto, não tem. A lata brilhante é um sinal passivo, direto e estático, do fabricado. A lata enferrujada está entre o fabricado e a Terra: é não-passiva, dinâmica e analiticamente agressiva, um signo. Um sinal, ou um símbolo, representa um estado e um signo representa uma variação de estados limitados pela insegurança, o desequilíbrio, a incerteza e o medo: não do autor mas do que o rodeia no enfoque da crise ambiental global. É o alargamento crítico do signo que o faz dinâmico contra a localização estática do sinal. Se a lata intacta é um representante direto do fabricado uma pedra, um ramo de árvore, ou um arbusto caído são representantes diretos da Terra: também insignificantes. A lata brilhante, limpa e intacta, e a pedra, o ramo ou o arbusto expostos no espaço mais conceituado, não ultrapassam a condição de não-Arte, ou arte. A lata pisada e enferrujada, transposta do inútil, ou decadente, para o útil, é uma Obra de Arte.

 138

A arte pode ser do objeto pronto, ou Ready-made, e a Arte é do objeto caindo na Terra, o Objeto-em-queda (In The Fall). A lata brilhante, limpa e intacta, o objeto pronto, pode ser exposta como arte e a lata inutilizada, pisada, suja e enferrujada, o Objeto-em-queda, pode ser exposta como Arte. O Objeto-em-queda será um Ready-made elaborado: ou não simplificado. O aproveitamento do Ready-made simplificado, com todas as variantes básicas e negativas, anti-Arte, anti-Estética e acrítico, está por detrás do Neokitch e do Neoneokitch da Arte Contemporânea: nele domina o paternalismo, o elitismo e a elevação do mediatizado a Arte que a Arte Modena negou. O Ready-made simplificado elevou-se a elaborado, ou Objeto-em-queda, pela A Fonte de Marcel Duchamp.

 139

O Urinol, de Marcel Duchamp, elevou-se de arte a Arte pelo poluídor sobre o decorativo que não é: ascendeu artisticamente na ascenção de objeto pronto a objeto caindo; quando o mijadouro, o símbolo poluídor, sintetiza a queda dos objetos na Terra. Os outros objetos prontos de Marcel Duchamp têm um alcance mediático muito menor que o Urinol: porque o Urinol expõe-se para o ver, ou olhar duchampiano, dobra-se sobre si na sua crítica de base, e os outros expõem-se para o olhar comum: e esse critério, especificamente analítico, domina sobre todos os outros na classificação da Obra de Arte. 

 140

A evolução da Arte Moderna foi a dispersão do Eu e a fuga ao realismo, ao académico e à técnica. A Obra de Arte não é a que traduz um objeto, uma paisagem, uma narrativa, ou a abstração aderente ao artista ou aos outros sem ir mais além. A Obra de Arte não vem da aprendizagem técnica ou académica

e sim do que as transcende criticamente. A Obra de Arte é contrária ao decorativo porque a evolução da Arte e da Estética (por mais de 167 movimentos artísticos modernos) assim o determinou. E o Artista não é o que o patrono identificou e sim o que encontrou a sua identidade no progresso estético e artístico. Uma identidade transversal à originalidade, à crítica ambiental e ao expositivo. Pela dispersão do Eu a Arte, indo a Entidade, vai do local ao geral e do indivíduo à espécie.

 141

A evolução particular partindo da precisão matemática e laboratorial conduziu à imprecisão geral. O domínio científico, feito de acréscimos locais, trouxe ao conflito geral: do Homem contra o Homem e do Homem contra a Natureza. A mesma Natureza que os pintores de Barbizon colocaram (conscientemente na abordagem plástica e inconscientemente na transformação estética) na representação artística: quando antes, e desde sempre, era secundária e menor. A evolução da técnica para a não-técnica e da abstração plástica para a abstração critica impõe a Natureza como do significante, na Arte. O aquecimento do efeito estufa e a saturação ambiental estão no limite da evolução académica a que a Arte, da era moderna, se opôs e opõe, com o intenso, o abrasivo e o simplório, do não-neutro, traduzindo o que domina e é dominado e decai progressivamente. A evolução e a involução nas coisas gerais e o contraditório e o significante na Arte e na Arte Quase Bruta no tempo do homem duplo: sábio e bruto.

 142

Na não-técnica a Pintura evoluiu para a exploração plástica, da experimentação dos materiais (Antoni Tàpies) contra a certeza, ou precisão, da técnica. A Forma da Estética tornou-se significante contra os significados das formas das técnicas e das estéticas. Transpondo a beleza objetiva da técnica e das estéticas a Arte atingiu o Belo da abstração subjetiva e da Estética. O Gosto, do presente sobre o do passado, é do Belo do significante e do contraditório, do Concetual, ou Forma. A Arte evoluiu da imitação alegórica de Sócrates, da técnica, para a não-imitação, da não-técnica. A Estética evoluiu do belo metafísico (contrário à Natureza) de Platão para o belo racional de Aristóteles, para o belo artístico de Baumgarten e o Belo Concetual (favorável à Natureza) da Arte Quase Bruta. É o impulso ambiental que eleva a forma, o gosto e o belo a Forma, a Gosto e a Belo. A Arte Quase Bruta fixa o Concetual, dotado da defesa do ambiente, na Forma, no Gosto e no Belo da Estética e da Arte.

 143

No princípio o homem utilizava os objetos da Natureza, ou a Forma Bruta. Com a evolução primitiva da habilidade manual surgiu a Forma Hábil. Depois as exigências ornamentais levaram à Forma Grácil. Seguiu-se a Forma Estética (Platão), a Forma Artística (Alexander Baumgarten) e a Forma Concetual, da Arte Crítica ao artificial e da Arte Quase Bruta. A Forma da Estética veio da evolução das formas bruta, hábil, grácil, estética, artística e crítica do artificial, do primário grotesco (não-ideológico) para o final ideológico: o que agrega, indiscutivelmente, o Concetual à ideia. Pela Forma Concetual, do contraditório, do significante e do crítico  a  Arte  Quase  Bruta  dilui-se  no  que a  precedeu no respeito pelo domínio do que nos envolve, da Natureza sobre a Natureza Humana. A Natureza do bosque de  Fontainebleau plastificou-se no Impressionismo, expressou-se no Grito de Munch e cristalizou-se no Concetual da Arte Quase Bruta fechando o ciclo, ou círculo, do fim ligando-se ao princípio, pela Arte. O Hábil e o Grácil, associados à forma, ao belo e ao gosto, foram transpostos: e a presença do Hábil e do Grácil nos 2400 anos de Arte seguintes a Apeles foram  da evolução da técnica na não-técnica. A Estética e a Arte, pelo Concetual (que inclui a Forma Bruta: não pelo uso dos materiais e imagens naturais e sim do seu contrário, o sintético: do bruto), deram um passo além da arte e da estética utilitárias e ornamentais.

 144

Pelo desenho, a fotografia, o vídeo, as artes, ou a técnica, pode-se mostrar o submarino nuclear naufragado em 1989 no mar de Barents:(3) mas não se pode mostrar a radioatividade que irradia e irradiará sempre no ambiente marítimo e global.(4) E pode-se mostrar a central nuclear de Almaraz: mas não se podem mostrar as cinzas radioativas que blindou nem a radiação que lançou e lança no Tejo contra as suas fauna e flora. Mas uma marinha alterada, corrosiva e deformada pode sugerir e representar a contaminação radioativa do K-278; mas a chuva de Máscaras Bizarras, do expressionismo de Susana Rosa, pode sugerir e representar as águas radioativas que as torres de arrefecimento de Almaraz lançaram e lançam no Tejo: tudo depende do olhar, que vai de acrítico a crítico, de quem observa. A Arte tende a representar, no não metafísico, não espiritual e não metafórico, o que as artes não atingem. O Mural, a primeira abstração pollockiana, foi executado em 1943 e as bombas atómicas little boy (urânio-235) e fat man (plutónio-239) que arrasaram a cinzas as cidades de Yroshima e Nagasaki foram em 1945:(7) (8) mas o salpicado de O Mural pode sugerir e representar os destroços atómicos das duas cidades distantes de si dois anos. E a abstração pollockiana vai mais longe: ela, o jardim cáustico, sugere, ou representa, o caos: o ponto distante (?) para que tende o Estado Crítico. O olhar do observador sobrepõe-se ao olhar do criador e o seu presente sobrepôe-se ao momento da criação: numa transcendência dupla: analítica e temporal. É essa duplicidade, da abertura presente na Obra de Arte, que eleva a abstração concetual ao Cocetual Abstrato. O Mural foi feito num ato rebelde de Jackson Pollock face às exigências de Peggy Guggenheim: não teve, na sua origem, nenhuma finalidade crítica e nenhum impulso expressionista: foi o andamento do tempo e da Estética, na conversão do gosto em Gosto, pela Razão, que sobrepôs o olhar crítico ao acrítico da abstração inicial dinamizando-a artisticamente.

 145

O homem evoluiu para a tecnologia e a cognição contraditórias no tempo do aqueciento glogbal e de mais calor artificial.(9) Na tecnologia, enquanto a crise ambiental, o homem entrou no Estado Crítico: da queda para o caos. Na cognição contraditória o homem entende o Estado Crítico e não o nega oportunamente. Na era científica, da cognição e da tecnologia, os rebentamentos do dia a dia, dos testes nucleares e da guerra libertam, na forma de calor, a energia inerte da matéria: calor que não se perde e se acumula na estufa do aquecimento global. A Arte no Estado Crítico tem de expressar-se contra o Estado Crítico: não pode ser a arte que o precedeu. A Razão, da Estética e da Arte Quase Bruta, é da negação do Estado Crítico e não do que o originou.

 146

A Arte Bruta (1945) é a arte criada por artistas portadores de carências mentais, ou por outros (como Jean Dubuffet, seu fundador), imitando-os.(12) Contrariamente a Arte Quase Bruta é a arte feita por artistas conscientes, ou não alienados, sobre a alienação humana, o estado moderno e da aproximação ao  Caos.  O  mesmo consciente que  impõe o contraditório e  o significante  na  Arte e  vê o Urinol,  de Marcel Duchamp, não como um objeto metafórico e mediatizado e sim como o símbolo poluidor, entre a micção humana e a Terra. Na Arte Quase Bruta o domínio do consciente sobre o neutro traduz a ideia sobre a não-ideia, o absurdo e a anarquia artística e estética. O grito da Natureza, de O Grito, de Edvard Munch, o sofrimento de todas as mulheres, de Mulher Chorando, de Pablo Picasso, e o grotesco invertido, do Belo contra o belo, de Mais Loiras, de Georg Baselitz, são consciências expressionistas tendentes ao significante artístico da Arte Quase Bruta, ou Arte Crítica, de mim mesmo, de Eusébio Almeida e de Susana Rosa deste manifesto.

 147

O Grito, de Edvard Munch, Mulher Chorando, ou Guernica, de Pablo Picasso, Fantasma com Mascara, de Karel Appel, e Retrato do Papas Inocêncio X, de Francis Bacon, são pinturas sugestivas na agressividade da bestialidade humana. O Expressionismo lançou a critica a besta usando o agressivo que combatia: uma crítica indireta, ou neocrítica, da Arte. Pelos métodos críticos convencionais, a oralidade e a escrita, a crítica é feita diretamente pela palavra. Não ao artificial! Não à guerra! Não ao caos! Mas a palavra só é utilizada no contraditório, no sentido crítico indireto, em algumas correntes artísticas porque a Arte comunica pelos signos e não pelos sinais. Quando o sinal, como o linguístico, vai a signo, do convencional para o artístico, a crítica vai do direto ao indireto: a neocrítica. A Arte Quase Bruta é a Arte Crítica  ao caos ambiental pela neocrítica 

 

NOTAS DO MAQB

1 https://pt.wikio vídeo de 1963, de Wolf Vostel, e pedia.org/wiki/Escola_de_Barbizon

2 https://pt.wikipedia.org/wiki/Arts_%26_Crafts

3 https://pt.wikipedia.org/wiki/K-278_Komsomolets

4 A meia-vida do plutónio 239 é 24000 anos e a meia vida do urânio 235 é 703800000.(5) (6) A meia-vida obedece a uma progressão geométrica de razão 1/2. 100 quilos de resíduos nucleares de plutónio-239 reduzem-se a 50 quilos decorridos 24000 anos, a 25 quilos decorridos 48000 anos, a 12,5 quilos decorridos 72000 anos e assim sucessivamente, nunca atingindo o zero e mantendo-se sempre a radioatividade e a libertação de calor. 100 quilos de resíduos de urânio-235 reduzem-se a 50 quilos decorridos 703800000 anos, a 25 quilos decorridos 1407600000 anos, a 12,5 quilos decorridos 2815200000 anos e assim sucessivamente, nunca atingindo o zero e mantendo-se sempre a radioatividade e a libertação de calor.

5 https://pt.wikipedia.org/wiki/Plut%C3%B4nio-239

6 https://pt.wikipedia.org/wiki/Ur%C3%A2nio-235

7 https://en.wikipedia.org/wiki/Mural_(1943)

8 https://pt.wikipedia.org/wiki/Bombardeamentos_at%C3%B4micos_de_Hiroshima_e_Nagasaki

9 As bombas little boy e fat man detonaram o equivalente a 15+21=26 quilotoneladas (10^3) de TNT. Uma tonelada de TNT liberta 4,184X10^9 Joules de energia e um joule de energia equivale a 0,00053 graus centígrados de calor.(10) (11) Uma tonelada de TNT liberta (4,184X10^9)X0,00053=2,21752X10^6 graus centígrados de calor. As duas bombas atómicas libertaram para a atmosfera do aquecimento global cerca de 26X10^3X2,21752X10^6=7,983072X10^10 graus centígrados de calor. As detonações de TNT na segunda guerra mundial libertaram cerca de 2,264040X10^13 graus centígrados de calor. A tsar bomb detonou o equivalente a 57 megatoneladas (10^6) de TNT.(11) O calor que libertou foi 57X10^6X2,21752X10^6=1,2639864X10^14 graus centigrados de calor. A tsar bomb, um teste atómico num só segundo, lançou mais de 5 vezes mais calor para a atmosfera do aquecimento global que uma infinidade de detonações (por terra, mar e ar) de TNT nos 6 anos da segunda guerra mundial.

 

10 https://pt.wikipedia.org/wiki/Equivalente_em_TNT

11 https://citizenmaths.com/pt/energy-work-heat/joules-to-celsius-heat-units

12 https://pt.wikipedia.org/wiki/Arte_bruta

 

Abrantes, 28 Maio 2025.

Arsénio Rosa

ESTÉTICA XIV

 

 

XIV O PONTO 12 DA ESTÉTICA E A VANGUARDA IV NO GRITO DE EMERGÊNCIA, DO ESTADO CRÍTICO, DE SUN IN YOUR HEAD, DE 1963.

 107

Sun In Your Head, de 1963, é uma sequência de imagens díspares entre si mas ligadas por quatro aderentes: o som, o mediatismo figurativo, o contraste entre o claro e o escuro com momentos intensos de luz e um avião. A sequência das imagens não é propriamente uma sequência porque elas fragmentam-se, seguem e dão vez a outras sem uma ligação efetiva entre si. Contudo há uma ligação linear entre elas: a do contraditório: oposto à técnica e exclusivo da Arte e da Estética. Nesse contexto Sun in Your Head, de 1963 quando a primeira câmara de vídeo surgiu em 1941 e na década de 1950 o vídeo evoluiu significativamente, não pode ser interpretado como um vídeo experimental e sim como um vídeo artístico, estético e crítico, criado por um artista: Wolf Vostell. Todas as interpretações que li, de críticos de arte (?), sobre Sun in Your Head são meramente técnicas, leituras diretas do filme, laterais à análise artística do filme artístico criado por um artista e não por um técnico de vídeo. Essa carência da leitura mediática sugere uma carência académica na área uma vez que a sua origem é académica. Se Sun in Your Head, de 1963, se resumisse a uma experiência de vídeo os vídeos que Wolf Vostell produziu em 1976, 13 anos depois, para o Museu Malpartida, de Cáceres, Espanha, seriam filmes comuns e não filmes na sua linha, do incoerente, do excessivo e do alienado que só têm enquadramento na Estética da Arte e não na estética do Vídeo.

 108

Um som ininterrupto acompanha o filme do princípio ao fim. Esse som é o ruído do avião que só adquire nitidez e permanência interrompida por imagens do voo, do piloto e dos aparelhos de comando, na segunda metade do filme. É um ruído extremamente incómodo que sobressai, nítido, da incoerência decadente das imagens: o incómodo do som transforma-o, contraditoriamente, em coerente sobre o incoerente e decadente mais de 80 anos depois dos movimentos iniciáticos do contraditório na Arte, o Decadentismo e o Artes Incoerentes. Se essa elevação do contraditório, que traz o incomodativo do decadentre e do incoerente para o essencial da análise, não existisse Sun In Your Head seria um aborto criativo. Sun In Your Head é um filme expressionista estruturalmente contraditório. A superação da incoerência do som em si mesmo está na substituição do belo pelo Belo; se o belo, na estética do filme comum, está na música atrativa do acompanhamento, o Belo, no filme expressionista, está na repulsa que conduz o observador ao alvo da crítica: o Estado Crítico, do artificial e da crise ambiental crescente após 1945. Em Sun In Your Head o incómodo sonoro (?) é levado a um extremo equivalente aos gritos mudos de O Grito, de Edvard Munch, e do Papa Inocêncio X, de 1951 (com cerca de 50 versões do quadro), de Francis Bacon (1909/1992), que atraem o analista artístico e são marcos da Arte e da Estética: interroguei incómodo sonoro porque ele, negativo e repulsivo para crítica comum, é positivo e atrativo para a neocrítica expressionista, de Sun In Your Head. E a incoerência do vídeo Sun In Your Head equivale à incoerência do salpicado de Jackson Pollock; uma no som e nas imagens, do Vídeo, e outra na plasticidade, da Pintura: ambas do Expressionismo Abstrato posterior a 1945 da origem do Estado Crítico.

 109

Todas as análises (de críticos artísticos (?)) que observei na internet foram técnicas e uma delas excedeu, na negação artística, todas as outras: a que substituiu o som de Sun In Your Head por um só orquestral vulgar: quando o som de Sun In Your Head é o seu elemento fundamental. Outra versão do Sun In Your Head não tem som: voluntariamente ou por falha técnica? Admito que voluntariamente: com o interveniente, técnico e não artísta, insensível ao significante da Arte e da Estética, expondo o insignificante do filme acrítico, no mudo. Se O Grito, de Edvard Munch, de 1893, foi o grito de alerta do modernismo obsessivo, da aproximação à crise ambiental sinalizada em 1938 por Guy Callender, Sun In Your Head, de 1963, de Wolf Vostell, foi o grito de emergência do Estado Crítico. O avião é militar. Um avião de guerra no tempo da guerra fria, da crise dos mísseis de Cuba iniciada em 1962 e da ameaça atómica das duas potências intervenientes. Sobre a interrupção visual domina a continuidade sonora: se o ruído é do avião o avião de guerra está presente implicitamente em todo o filme. A persistência incómoda do som eleva-o de som útil, de um avião, ao som besta de um avião de guerra elevado a um plano de alienação e emergência. Como o som de emergência é total Sun In Your Head transporta o seu significado para um estado exterior equivalente: o Estado Crítico depois de 1963-1848=115 anos de oposição artística ao artificial a favor da Natureza. Os gritos de O Grito e do papa Inocêncio X, pela pintura, são gritos mudos do medo do homem: aprisionado na Natureza, no primeiro caso; e alienado na nulidade divina da Natureza Humana, no segundo caso. Com o evento do vídeo o grito mudo elevou-se a grito efetivo na era do medo atómico, do artificial e do Estado Crítico. O som de Sun In Your Head é um grito efetivo sobre os gritos mudos de O Grito e do papa Inocêncio X, este já no percurso de 1945 para 1963.

 110

Se o som do avião é uma forma plástica, ou sinal sonoro da estética do vídeo, a sua elevação ao estado de emergência eleva-o a signo, da Estética da Arte, ou Forma. Na transição da forma em Forma pelo impulso, ou gosto, de Wolf Vostell o gosto, da estética do vídeo, foi a Gosto da Estética da Arte. O belo mecânico, do avião e da estética da aeronáutica, transposto para a crítica da guerra, do alerta de emergência e do Estado Crítico da Estética da Arte, foi a Belo. Sun In Your Head é um vídeo artístico onde o elemento fundamental, no seio da multiplicidade de elementos contraditórios, é o som. Sendo um vídeo artístico deve ser analisado artisticamente, nos moldes do Gosto, da Forma e do Belo, nunca de forma técnica. Na análise técnica o som de Sun In Your Head não é belo; na análise artística, da estética, é Belo: porque é conforme ao uso do berrante, do grosseiro, da máscara e do feio, do Expressionismo Figurativo, para denunciar a besta humana.

 111

Na incoerência entre as imagens surge a incoerência da apresentação de referências-fonte do filme quando antes do filme há uma pequena ficha técnica que as podia conter: isso sugere que Wolf Vostell quis mostrar incoerência voluntária, ou artística, em Sun In Your Head, sobre a incoerência da experimentação técnica. A frase Silence Please é contraditória, extremamente alusiva e significante, e absurda: porque está envolvida pelo ruído estridente, agressivo e incontornável. Surgem políticos, John Kennedy, militares em desfile, figuras mediáticas da televisão e, com mais permanência e nitidez, o piloto do avião de guerra: evidenciando, criticamente, o aspeto militar sobre o civil. A frase Genius at Work só pode ser uma crítica à eficácia das figuras mediáticas no tempo de Sun In Your Head e da queda do Estado Crítico nascido com os massacres finais da guerra de 1945: quando nos contrastes do claro e escuro há rápidos de luz intensa que sugerem os cogumelos atómicos.

 112

Se o belo, expresso diretamente pelo gosto sobre a forma, no objeto comum que inclui o filme, é do significado, o Belo, expresso pela Gosto sobre a Forma, é do significante. Havendo uma dobragem da forma em Forma pela elevação crítica do gosto em Gosto o Belo, e o significante, são da crítica, enquanto o belo e o significado ficaram no decorativo do filme. O Grito, de Edvard Munch, e o papa Inocêncio X, de Francis Bacon, muito improvavelmente decoram uma sala de jantar familiar ou mediática; enquanto Sun In Your Head, não se exibe (decorando no sonoro) certamente numa sala de jantar familiar ou mediática: porque a agressão sonora nega-lhe, na totalidade, a opção social, serena e de convívio, das duas reuniões. Se o significado e o insignificante, da forma acrítica, atrai ao decorativo, o significante, da Forma crítica, atrai à neocrítica da Estética e da Arte. Sun In Your Head foi um trabalho ocasional, na crítica ao artificial, de Wolf Vostell? Não foi!

 113

Wolf Vostell aderiu ao Movimento Fluxus da década de 1960. Já por si o Movimento Fluxus, enquadrado nos movimentos de contestação, foi um movimento crítico. A crítica artística está implícita, por exemplo, nas peças excessivamente luminosas do néon, ou de luz artificial: mas a crítica de Wolf Vostell, representada no Museu Malpartida, de Cáceres, Espanha,supera extraordinariamente a crítica do Fluxus. O Automóvel Varredor, destituído da sua função utilitária, varre os espaços vazios inúteis duma geometria de pratos úteis. No Automóvel Instrumental o motor foi trocado por um piano e o vídeo associado, com martelos empunhados por mãos acorrentadas batendo no teclado, emite sons alienados, díspares do contesto, nem musicais nem motorizados. Os televisores e as mesas escolares sujos de argamassa na sala de aula sugerem a cultura mediática que se supera e suja a si mesma. A parede de motas sugere o aprisionamento do movimento moderno acelerado. O Morto Que Tem Sede, a escultura vertical de rua com 3 pianos, 2 automóveis, um avião e peças de comando, vertendo água do cimo, sugere a sede de morte do estado de emergência e a queda da máquina na escultura artística, ou queda do homem na Terra através do Objeto-em-queda seguinte ao Ready-made. Em VOAEX a viagem de automóvel pela Alta Extremadura acabou sinistrada, ou aprisionada, na pedra escultórica, sob os penedos imortais dos Barruecos de Cáceres, No expressionismo de Wolf Vostell o inútil, da Arte e da Estética, assume-se contraditoriamente acima do útil dos excessos do dia-a-dia. Na pintura, enriquecida com escultura, no uso de pneus, rodas e eixos e vídeos incompreensíveis ou apagados, domina o corpo humano fragmentado, ou fragilizado, na modernidade perfeita (?), técnica e científica. As peças, como os pianos, as televisões, as carteiras de escola, as motorizadas, os carros e o avião, são ferro-velho ou sinistrados: o sinisto é dos carros e do avião sinistrados, da escultura VOAEX e da guerra do avião de guerra do vídeo Sun In Your Head : Sun  In Your Head não foi um caso crítico isolado na obra de Wolf Vostel porque é crítica toda a sua obra de Malpartida, de 1976, 13 anos depois.

 114

O ninho de cegonha com a cegonha no cimo sobre o Morto Que Tem Sede mostra o domínio da Natureza sobre a natureza humana e, simultaneamente, o domínio do espontâneo, dos animais, sobre o programado, e académico, do homem. Certamente que Wolf Vostell não pensou que sobre a sua escultura uma cegonha viria a construir um ninho: mas construiu. O Morto que Tem Sede é uma escultura crítica: em queda. É crítica no afastamento que tem dos bustos clássicos, das formas cúbicas, dos ready-mades, dos mamaraxos, adimensionais, sugerindo a fraqueza da grandeza humana, e da Arte do Lixo (1961), do último segmento, ligando-a ao Objeto-em-queda: quando o avião e os carros sinistrados são ferro-velho, ou lixo. A cegonha, no seu ninho sobre o Morto que Tem Sede, diz-nos que a Natureza vai sobreviver sobre a natureza humana e que devemos inverter a queda, respeitando-A. Essa análise, centrada na cegonha sobre a escultura, transcendendo a ideia do autor, é da Estética do Concetual nascida em 1943, ou 1945, ligando O Mural de Jackson Pollock aos detritos das explosões nucleares e da guerra.

 115

Diversamente crítica a obra de Wolf Vostel reforça o sentido voluntariamente crítico de Sun In Your Head: um reforço inquestionável quando o avião de O Morto que tem Sede é um avião de guerra como o do vídeo de 1963. Uma crítica enquadrada no expressionismo da linha de O Grito, do Papa Inocêncio X de Francis Bacon e de O Mural, da asfixia do homem na Natureza e na Arte (artificial). A porta do Museu Malpartida dá entrada, na entrada, para o artificial da Arte e da Estética; e dá entrada, na saída, para os Barruecos, a Natureza envolvente que subsistirá no limite do Estado Crítico. Malpartida, de Espanha, é um ecosistema essencial do contraste entre a Arte e a vida: o Museu Malpartida é da Arte e do Artificial; os Barruecos são da Natureza. Nos Barruecos, como aqui, já não se ouve o trinado dos rouxinóis, o pio das cotovias e dos tentilhões: ouvem-se os sons dos vídeos, das orquestras musicais e do Sun In Your Head. 

 116

O Estado Crítico nasceu em 1945 com o evento atómico e cresceu com a radioatividade, na terra, no ar e no mar, das bombas de Hiroshima e Nagasaki, dos milhares de testes nucleares feitos até 1963 (ano de Sun In Your Head) e dos desastres radioativos: mas os pequenos pássaros resistiram em bandos extraordinários até ontem: a sua queda, na era dos satélites e das ondas eletromagnéticas, indica que além da poluição corrente e radioativa há algo mais contrário à vida selvagem. A cegonha sobre o Morto Que Tem Sede, de Wolf Vostell, é um indicador da vida sobre a morte: indica que os animais de maior porte resistem ao estado de emergência a que os de menor porte não resistem: nos ecossistemas a que todos são essenciais. Nos céus já não voam toutinegras mas ainda voam cegonhas, águias e falcões debaixo dos aviões comerciais e de guerra como o de Sun In Your Head e do Morto Que Tem Sede. Sun In Your Head é um vídeo crítico marcante no andamento da Arte e da Estética e o seu som é o som de fundo do Estado de Emergência: do Estado Crítico. O Expressionismo Abstrato nasceu no momento do Estado Crítico, o princípio da queda, em 1945, da Vanguarda III e do ponto 12 da Estética. A Vanguarda IV e o ponto 12 da Estética, em 1963, ocorreram com a sirene do Estado de Emergência, o som de Sun In Your Head, de Wolf Vostell.

 117

O que a Arte Moderna fez, a partir de 1848 e do sentimento do domínio da Natureza sobre a natureza humana, foi negar a imitação e fixar a crítica na linha final da Estética e da Arte. Se a crítica inicial, de Aristóteles, era a crítica do homem ao homem de rua, lida na tragédia teatral, a crítica final é a crítica do homem ao homem global, do Estado Crítico. A crítica evoluiu do homem natural (?), de há cerca de 2400 anos, para o homem artificial, da atualidade. A análise dos movimentos artísticos entre 1945, do Expressionismo Abstrato e da Escola de Nova Iorque, e 1963, do Sun In Your Head, distingue os que foram críticos e os que foram nulos no enquadramento da Estética e da evolução da Arte. Um movimento artístico ou parte de um artista ou de um grupo contornando uma ideia: a do indivíduo ou do grupo. No caso do artista a ideia galvaniza outros artistas e é essa onda que eleva a ideia a movimento; no caso do grupo a ideia, colocada ou não em manifesto, será do grupo que se propõe como movimento e se impõe se outros artistas a seguirem no tempo: é a ideia, o fundamento da Arte e da Estética, que domina na caraterização do movimento artístico. O caso do KWY, de 1958, não tendo uma ideia agregadora de grupo não foi propriamente um movimento artístico. O caso do Vídeo, a Instalação, o Happening e a Performance, nascidos entre 1945 e 1963, não foram movimentos, foram áreas de representação cénica, mas foram adotadas pela Arte e usadas em cruzado entre si e com as outras áreas artísticas: e por isso, para simplificar a análise, contam como movimentos. Também Sun In Your Head, do Expressionismo Vosteliano, por demarcar o ponto 12 da Estética e a Vanguarda IV em 1963, é tratado como movimento. Entre 1945 e 1963 ocorreram cerca de 33 movimentos.

 118

1945: Arte Bruta. 1945: Expressionismo Baconiano. 1940/1950: Tachismo. 1940/1950: Arte Contemporânea. 1940/1950: Arte Neoneokitsh.1946: Espacialismo. 1948: CoBrA. 1950 (?) Minimalismo. 1950: Combine. 1951:Neodadaísmo. 1952: Informalismo. 1953:Assemblage. 1954: Pop Art. 1956: Vídeo. 1950/1960: Mail Art. 1950/1960: Concretismo. 1950/1960: Arte Cinética. 1950/1960: Neoconcretismo. 1950/1960: Tachismo de Maria Helena Vieira da Silva. 1956: Arte Cibernética. 1958: KWY. 1959: Color Fields. 1959: Happening. 1960: Novo Realismo. 1960: Nova Figuração. 1960: Neo Dada OrganizersN. 1961: Concetualismo.1961: Junk Art. 1961: Decolage. 1961: Fluxus. 1961: Neoneokitsch. 1963: Arte Feminista. 1963: Expressionismo Vostelliano. 1963; Sun In Your Head.

 119

Os movimentos insignificantes, que não foram críticos aos parâmetros da vanguarda III,  entre 1945 e 1963 foram os seguintes. NEOKITSCH. O Neokitsch foi criado pela Arte Contemporânea e, consequentemente, seguinte à sua origem. A Arte Contemporânea elegeu e elege primeiro o artista e só depois a Obra de Arte; depois tudo que o artista mediatizado produz é Arte valorizada: uma inversão, ou falsificação, da classificação, onde é a obra produzida que eleva o artista a Artista e nunca o contrário. A não-Arte, não no contexto dadaísta mas no banal, é elevada a Arte: é arte Neokitsch. A arte Neokitsch é uma versão oportunista da arte Kitsch: se a arte Kitsch era do ingénuo no ingénuo, ou do nulo no nulo, nunca elevada a Arte, a arte Neokitsch é do oportunismo académico com os seus pares, do nulo elevado exponencialmente: valorizando o que não tem valor. A elevação exponencial do nulo coloca o absurdo no Neokitsch porque: 0^n=1 para todo n. A arte Neokitsch ocupou o primeiro segmento da Arte Contemporânea ligado à falsificação no absurdo: até 1961 com Merda d’Artista, de Piero Manzoni. Numa ideia original Manzoni crticou o Neokitsch finalizando o ciclo que originou o Neoneokitsch. A arte Neokitsch é díspar da Estética: porque o racionalismo estético não admite o aburdo. NEODADAÍSMO. Porque negou a abstração artística a favor da intervenção e provocação perfomativas sociais e políticas. A sua crítica foi de rua e não artística. Como que aproveitou a parte negativa do Dadaísmo. ASSEMBLAGE. Junção de objetos tridimensionias à Pintura sem a desvirtualizar artisticamente. Mistura de pintura e escultuda em dimensões reduzidas comparadamente ao Combine. Movimento de alteração geométrica sem exigência crítica. MAIL ART. Arte de dimensões mínimas teve por único objetivo a troca por correios: postal ou carta. Posteriormente a troca usou a internet. CONCRETISMO. Nasceu na literatura e espalhou-se pelas outras artes. Dando ênfase ao visual sobre a síntese negou a tendência minimalista que lhe foi anterior e posterior. Negou a identificação do autor na Obra de Arte querendo elevá-la do pessoal para o universal pelo pormenor e não pela génese. KWY. Sem agregação artística, e ideológica, entre a criação de cada um dos elementos do grupo, foi um movimento acrítico contornando, parece, a necessidade do reconhecimento mediático dos intervenientes na Arte Contemporânea. NEO DADA ORGANIZERS. Movimento seguinte ao Neo Dadaísmo e mais radical que ele. Arte partindo da performance livre, interior e de rua. Usavam o incomodativo, como expor lixo declarado numa galeria de arte, o destrutivo comum e acrítico, como partir objetos úteis e artísticos, e o passeio bizarro, com trajes provocadores, no semi-nu ou no nu simples ou pintado. O Neo Dada Organizers foi buscar o supérfluo e lateral do dadaísmo inicial para se manifestar contra o conservadorismo social e a arte abstrata que teimava alterar a arte japonesa. CONCETUALISMO ou ARTE CONCETUAL. Ao valorizar a Obra de Arte como o veículo duma ideia negou a Estética do Concetual e a abertura total, ou parcial, à observação artística. A criação artística partindo duma ideia, ou o domínio das ideia inicial da Obra de Arte, negou a abertura ideológica e a possibilidade da crítica exigida pela Estética e a Arte desde 1945. O Concetualismo de 1961 partiu da ideia ancestral de conceção com a valorização do que se faz, ou se concebe, transversal ao artístico e ao comum: ultrapassado e esteticamente inconsistente. DECOLLAGE. Contrário da colagem pela desconstrução da imagem inicial rasgando, raspando, apagando, partes, sem desvirtualizar o conjunto. Foi acrítico. NEONEOKITSCH. Depois de Merda d’Artista, original e crítico e de valor artístico e estético, o facilitismo paternalista da Arte Contemporânea admitiu outras simplicidades pretensamente críticas, mas acríticas, porque a crítica contextual esgotou-se em Manzoni: e nasceu o Neoneokitsch. A arte Neoneokitch é exemplificada pela banana presa na parede com fita cola, mediatizada por uma grande leiloeira e vendida por milhões de dólares. A obra da banana só teria valor se fosse crítica; mas não pôde ser crítica quando o crítico no simples se esgotou na origem: em Merda d’Artista. Merda d’Artista, de Piero Manzoni, de 1961, dois anos anterior ao grito de emergência ambiental de Sun In Your Head, de Wolf Vostell, de 1963, foi o alerta da queda da Arte pela  Arte Contemporânea. Merda d’Artista finalizou o período Neokitsch e iniciou o Neoneokitsch: mas não acompanhou o Neoneokitsch porque a crítica de Manzoni foi sobre a não-Arte anterior e posterior. Arte Feminista. Arte de mulheres artistas nas áreas designadas femininas como o bordado, a tecelagem e a tapeçaria. Arte diferenciadora de género e acrítica.

 120

Os movimentos Com Significado mas que não foram Significantes foram os que influenciaram o andamento artístico, ou pela sua originalidade, ou pelo seu impacto global e a sua continuidade no tempo, mas que não foram abertamente críticos da guerra, do artificial e da bestialidade humana posteriores a 1945. O gosto dos movimentos com significado foi díspar do Gosto crítico ao Estado Crítico. O movimento significante, crítico, pertence à linha da Estética e os com significado, ou insignificantes, acríticos, não lhe pertencem, serão da linha lateral da Arte. Entre 1945 e 1963 os movimentos Com Significado foram os seguintes:

 121

ARTE BRUTA. Porque conduziu a forma artística ao encanto da simplicidade transversal a movimentos fundamentais seguintes. Embora viesse a influenciar positivamente muitos movimentos críticos a Arte Bruta em si foi acrítica. TACHISMO. Porque criou um vasto campo de estudo das artes pela construção e desconstrução incompletas acríticas. ARTE CONTEMPORÂNEA. Não foi insignificante porque, embora de forma ilícita, liderou o mercado global da Arte desde a sua origem até hoje. Porque os sinais iniciais agregados, formas aerodinâmicas inspiradas na revolução digital e na era espacial (iniciada na Alemanha em 1944 com o satélite V-2), e o vinil dispersaram-se, ou anularam-se, nos salões ditos contemporâneos. Porque não se sabe o que é a Arte Contemporânea que se dispersa pelo que é Arte e o que não é Arte guiada unicamente pelo seu poder mediático. Porque criou o Neokitsch e o Neoneokitsch (abaixo de insignificantes) falsificando, no absurdo, o andamento da Arte e do seu mercado. Porque, contra a direção não académica e não paternalista da maioria esmagadora dos movimentos, liderou a arte no académico e no paternalista. Porque sobrepondo, na sua origem, o espacial e digital ao tecnológico e mecânico (criticado por vários movimentos partindo do Arts & Crafts) aliciou o artificial contra o natural: negando os fundamentos da Arte Moderna que a inclui. ESPACIALISMO. Porque a ideia da fusão da Obra de Arte no espaço que a contém foi exclusivamente formal: e acrítica. VÍDEO. Não foi um movimento e sim uma área tecnológica adotada artisticamente. ARTE CINÉTICA. Criou a ilusão de movimento e profundidade em padrões fixos de linhas e cores. A dispersão do observador é exclusivamente geométrica: não analítica e não crítica. Vingou como movimento artístico autónomo e transversal a outros movimentos. NEOCONCRETISMO. Defendeu a subjetividade contra a objetividade do Concretismo. E fez a abertura da Obra de Arte ao toque e manipulação dos observadores: pormenor acrítico mas original. ARTE CIBERNÉTICA. Foi criada pelos computadores iniciais com os suportes associados: televisão, video e áudio. Criação livre, crítica ou acrítica. A Arte Cibernética seguiu o digital no tempo do digital inevitável. COLOR FIELDS. Foi um movimento acrítico centrado na beleza cromática pura inspirado no Suprematismo e no Stijl. Vingou como movimento. HAPPENING. Não foi um movimento artístico e sim uma área de representação cénica adotada artisticamente. Do género da performance o Happening misturou o programado com a improvisação e a interação com o público. Da improvisação: duas representações do mesmo programa não são iguais uma à outra. NOVA FIGURAÇÃO. Porque foi um movimento sobretudo crítico da arte académica. Negou, voltando à figuração, o Informalismo e o Expressionismo Abstrato de origem não académica tornados académicos.

 122

O EXPRESSIONISMO BACONIANO foi significante pela representação da bestialidade humana nos retratos alienados no negro, na brutalidade do homem para os animais e na crítica ao catolicismo, ou religioso, no retrato, repetido 45 vezes entre 1951 e 1965, do papa Inocêncio X. Nos retratos de Inocêncio X o papa grita um grito nem alienado nem espiritual: um grito do sonho não surrealista, do subconsciente aterrorizador: um grito eletrizado e diabólico. A onda do grito absorve a cortina de fundo, que se desdobra, absorvente, para a frente, a cadeira e o corpo, num conjunto irreal e fantasmagórico. Inocêncio X está preso no seu grito e num ringue dourado frontal: está duplamente preso, entre o diabólico, do seu íntimo, e o real. O ringue, ou grade, que aprisiona frontalmente o papa, não existe no quadro de Diego Velasquez, de 1650, em que Francis Bacon se inspirou. Os retratos de Inocêncio X excedem as forças, ou impulsos obscuros, que Francis Bacon referiu representar na vez dos retratos reais: vão ao satânico, simétrico ao religioso mas imediato a ele, e exclusivo do homem. O papa Inocêncio X de Francis Bacon parece gritar o grito de todos os que a igreja católica torturou desde os tempos medievais: como se todos eles, num cúmulo, num momento e numa possessão extraordinária tentassem libertar-se da morte pelo grito papal contrário. Em Figura Com Carne, de 1954, a figura é o papa Inocêncio X: nele o espiritual funde-se com o sanguinário e com a bestialidade humana subjacentes aos jogos do poder vindos de muito antes de Nicolau Maquiavel. Não pode ter sido por acaso que Francis Bacon escolheu o papa Inocêncio X entre tantos papas: a inocência, de inocêncio, de Inocêncio X, elevada ao grito paranormal é da bruxaria solidária ao religioso: dos que salvam, dos que matam e dos que ressuscitam. A crítica baconniana ao religioso como que finaliza, no moderno, a crítica convencional da Estética e da Arte vinda desde a origem do Renascimento. Os quadros de Francis Bacon, com carcaças de talho sangrentas como peças decorativas, é de uma expressividade brutal contra a insensibilidade humana; não contra a guerra, o artificial e o Estado Crítico: uma exceção do terrível, da indiferença ao sofrimento dos animais. A crítica à agressividade com os animais, seguiu-se à crítica de Caravaggio, no final do século XVII: duas exceções, talvez, na Arte. Nos retratos, que inclui o de si próprio, o íntimo mais obscuro, ou mais negro, dos retratados, transvasa para a psicologia da espécie transcendente à psicologia das multidões em neocrítica extrema: uma neocrítica díspar, pessoal e mais agressiva, que a neocrítica fauvista à máscara humana. Há a psicologia do indivíduo, a psicologia das multidões e a psicologia da espécie: as duas primeiras bem definidas nos livros de psicologia e a terceira, da responsabilidade do Estado Crítico, indefinida e instigada pelo Expressionismo Baconiano. O Expressionismo Baconiano, não abstrato no segmento do Expressionismo Abstrato, foi significante no andamento da Arte e da Estética depois de 1945.

 123

É de 1951 o quadro Massacre na Koreia de Pablo Picasso. Depois de Guernica, de 1937, e de The Charnel House, de 1944/45, Massacre na Koreia foi a terceira pintura do pintor contra a guerra. Massacre na Koreia, o fuzilamento seguinte à Execução de Maximiliano, de 1868, de Edouard Manet e dos Fuzilamentos do 3 de Maio, de 1814, de Francisco de Goya, traz para o tempo do Expressionismo Gestual, entre a Vanguarda III e a Vanguarda IV, a negação da guerra vinda desde a Vanguarda I. A força cubista de Massacre na Koreia, muito mais extraordinária que os dramatismos de The Charnel House e de Guernica, traz a negação da guerra de Pablo Picasso para a Estética, no abstrato, posterior a 1945.    

 124

E foram significantes os movimentos seguintes. GRUPO CoBrA. Na crítica expressionista, figurativa, fauvista e explícita, ao homem besta de Karel Appel. MINIMALISMO. Foi uma sequência do minimalismo expressionista, no abstrato, de Jackson Pollock. Foi um movimento transversal a diversos movimentos artísticos e a outras estéticas, como da literatura, do cinema e do design múltiplo. O COMBINE. Porque misturou a pintura com objetos utilitários criando uma representação tridimensional crítica do quotidiano artificial e consumista. INFORMALISMO. Na inclusão do traço e da mancha automáticos e aleatórios na abstração. No uso de suportes e tintas não convencionais. Na abertura total da obra de arte ao observador. N uso de pingados, escorridos e grafia absurda: na crítica ao rigor académico: na elevação da forma plástica à Forma sensitiva e na transmissão do caótico, do caos e da cultura contraditória próprios do Estado Crítico. POP ART. Na crítica sintética ao consumismo artificial e excessivo, no impacto global que teve na Arte e pela originalidade representativa. TACHISMO de MARIA HELENA VIEIRA DA SILVA. Na crítica ao artificial e à devastação da guerra. Na crítica ao caos gerado pela guerra. Na crítica à decadência dos túneis sociais e dos labirintos do xadrez político. NOVO REALISMO.  Porque criticou o caos coletivo que escapa às responsabilidades dos particulares. Porque usou materiais reciclados urbanos na construção artística negando, na plasticidade, a arte académica, clássica e conservadora. O Belo da Forma veio de materiais pobres contra o belo da forma que vinha de materiais nobres: essa translação da forma em Forma e do belo em Belo nasceu da translação do gosto em Gosto pelo sensorial sobre o formal, ou plástico, aquele posterior ao ponto 11 da Estética e à vanguarda III e este anterior a eles.  JUNK ART, ou Arte do Lixo. Porque subverteu na totalidade a plasticidade artística reduzindo a Forma ao lixo crítico do artificial humano. FLUXUS. Pela crítica ao artificial usando os excessos de luz do néon. O Gosto do Fluxus animou-se com a luz industrial excessiva: a Forma, excessivamente brilhante, agrediu o olhar dos observadores levando-os ao Belo, crítico do artificial.  EXPRESSIONISMO VOSTELLIANO. Sobretudo pelo grito de emergência do Estado Crítico por Sun In Your Head. A crítica à guerra de Sun In Your Head é dada pelo som do avião militar e pelos clarões atómicos; em todos os outros movimentos significantes entre 1945 e 1963 só o Tachismo de Maria Helena Vieira da Silva foi um grito declarado contra a guerra: quando a Negação da Guerra, vinda da sanidade dadaísta, foi um dos pontos fundamentais fixados em 1945.

 125

O Estado Crítico, nascido em 1945, é um estado em queda para o Estado de Emergência, do não retorno. Entre 1945 e 1962 nenhum movimento, ou intervenção artística, fez a crítica ao Estado de Emergência. Essa crítica ocorreu em 1963 com Sun In Your Head de Wolf Vostell. Em 1963 a Arte atingiu a Vanguarda IV e a linha da Estética o ponto número 12. A transição da Vanguarda III para a Vanguarda IV da Arte seguiu a ordem posterior a 1848 da origem da Arte Moderna; a transição do ponto 11 para o ponto 12 da Estética seguiu o racionalismo da linha ancestral, vinda de há cerca de 2400 anos, de Sócrates: paralelamente ao Gosto, à Forma e ao Belo da Obra de Arte racional. O Gosto é crítico; a Forma é da crítica; e o Belo é o crítico: a crítica define o alinhamento racionalista, ou contínuo, da Estética da Arte vindo desde Aristóteles.