ESCRITA
EMBRIONÁRIA E VERTICALIDADE.
A
evolução linguística foi paralela à verticalização. Assim que ao limite
linguístico, o ponto da Escrita Embrionária, correspondeu a elevação vertical. Em
que momento surgiu a Escrita Embrionária e se atingiu a verticalidade? Para a
obtenção desse momento antropológico vamos fazer: A) um estudo bibliográfico
sobre as escritas primitivas; B) e um estudo matemático do paralelismo da idade
infantil de entrada na escrita e o zero da Escrita, na evolução.
A1
Bibliografia sobre as escritas e a arte primitivas.
“Qualquer
que seja a natureza exata da sua origem, o conhecimento da escrita primitiva
dos Sumérios baseia-se num achado singularmente rico em Uruk (a Biblica Erech,
a noroeste de Ur) no começo do segundo quarto deste século: mais de um milhar
de pequenas tábuas e fragmentos com inscrições de uma escrita pictográfica
imperfeita, tudo indicando que representa a língua Suméria.” “… No estrato de
Uruk conhecido por “IVb” foram encontrados aproximadamente 900 símbolos
diferentes, presumindo-se que este número represente uma fração dos símbolos
então em uso.” “…Trabalhando em barro húmido, os Escribas Sumérios concluíram
que os carateres poderiam ser desenhados mais nitidamente e mais eficientemente
imprimindo-os e não riscando-os.” “O Elão Bíblico… era o antigo nome dado à
região situada no Norte do Golfe Pérsico e à parte oriental do Baixo Tigre.
Habitada por um povo que não era semita nem indo-europeu, utilizando dialetos
aglutinados, relacionados provavelmente com o grupo de línguas do Cáucaso, esta
região foi berço de uma civilização comparável à dos Sumérios e Acádios. Nos
fins do IV milénio a. C. os Elamitas possuíam uma escrita autóctone, da qual
foram encontradas nove inscrições em pedra e várias centenas de placas de
barro. Os carateres desta escrita, parcialmente decifrada, são geométricos e
lineares, geralmente escritos da esquerda para a direita; é quase certo que
derivam de símbolos pictográficos mais antigos, dos quais não foram encontrados
ainda quaisquer exemplares. Esta escrita primitiva, chamada «proto-elamita» ou
«elamita antiga», parece ligar-se de alguma forma ao antigo cuneiforme, sendo
no entanto incerta a natureza exata dessa relação.” (Diringer, D.; A Escrita,
Editorial Verbo; Lisboa 1968; p. 37, 38, 41 e 45).
“A região ocupada pelos Sumérios ficava
entre os rios Tigres e Eufrates no que hoje é o Iraque
e o Kuwait, e, até recentemente, era
conhecida por Mesopotâmia…” “Atribui-se aos Sumérios o
desenvolvimento da matemática. Usavam
uma combinação dos sistemas de base 10 e de base 60 (sexagesimal) para contar,
ao contrário do simples sistema de base 10 ou decimal que usamos hoje. Estamos
habituados a pensar em 60 segundos para um minuto e em 60 minutos para uma hora
porque o nosso sistema de medição do tempo deriva do dos Sumérios e dos
Babilónios. Por consenso geral, também se atribui aos Sumérios a invenção da
ideia de que o círculo tem 360 graus, sendo cada grau dividido em 60 minutos e
cada minuto em 60 segundos.” (Knight, C.; Butler, A.; A Primeira Civilização;
Círculo de Leitores; Lisboa 2006; p. 61 e 62).
“A escrita consciente e sistemática
apareceu pela primeira vez por volta da segunda metade do quarto milénio a. C.
Pode dividir-se nas seguintes categorias: 1) Escrita pictográfica, que
é uma escrita sintética ou por imagens, esboços ou esquemas, cada um dos quais
é designado por pictograma. É verdadeiramente o primeiro passo importante fora
da escrita embrionária, uma vez que não se restringe unicamente ao registo de
imagens simples desligadas, mas representa estádios sequenciais de ideias de
uma narrativa, mesmo que simples; 2) Pictogramas ideográficos ou ideogramas, em
que os sinais ou signos representam não só os sinais que mostram, mas
relacionam também ideias ou conceitos com os quais esses objetos estão
relacionados; 3) Escrita analítica é a designada escrita mais famosa do mundo
antigo, usada pelos habitantes da Mesopotâmia, Egipto, Creta, pelos Hititas,
pelos habitantes do Vale do Indo, pelos Chineses, Mongóis…; 4) Escrita
fonética. Enquanto na escrita ideográfica pura ainda não há qualquer ligação
entre o símbolo representado e o nome falado para ele, isto é, os símbolos
podem ser lidos com a mesma facilidade em qualquer linguagem, na escrita
fonética, num primeiro tempo tem-se a contrapartida gráfica da fala. Cada
elemento da escrita fonética corresponde a um som ou sons da linguagem que está
a ser representada e o primeiro pode ser explicado ou «lido» através do
conhecimento do último. A escrita fonética pode ser quer silábica, quer
alfabética…” (Aragão, M. J.; História da Escrita; Palimage Editores;; Viseu
2003; p. 22 e 23).
“…Entre outras, a carapaça de tartaruga
com inscrições desenterrada na estação arqueológica de Jia Nan, datada de há
8000 anos atrás. E encontraram-se nas peças de cerâmica na estação arqueológica
de Ban Po, perto de Sian, datadas de há 6000 anos, símbolos inscritos
que são semelhantes aos descobertos em
Anyang.” “Não são pictográficas as inscrições em ossos e conchas de tartarugas.
E esta escrita mais antiga chinesa comporta um número reduzido de carateres
muito simples, mas satisfazia as necessidades da comunicação humana daquela
época primitiva. São símbolos modestos e abstratos resultantes de convenções
baseadas na indução e abstração.” (Jian, L.; Escrita das Escritas; Museu das
Comunicações: Lisboa 2001; p. 72).
“Acharam-se na Roménia, na Húngria e na
Bulgária estranhos sinais, gravados em argila, dando ares de tentativas de
escrita que datariam de há 8000 anos. Têm sido trazidos à luz em dezenas de
escavações a norte das Balcãs, como se eles representassem um elemento
importante na cultura dos homens desta época e desta região…” “Duas delas intrigaram muito particularmente
os especialistas. Uma, encontrada em Gradeshnitza, na Bulgária, é uma pequena
placa de argila sobre a qual aparece o que tem todo o aspeto de símbolos
estilizados. A outra é um sinete circular, igualmente de argila, achado em
Karanovo e cujos dezoito sinais seriam uma forma rudimentar de escrita…” “…É o caso da que edificou cidades
importantes, há 4500 anos, ao longo de mais de 1500 quilómetros, ladeando o rio
Indo…” “A principal cidade desta
«Civilização do Indo» é Mohenjo-Daro, onde viveram dezenas de milhares de
habitantes e cujas ruínas se dispõem, segundo um plano de xadrez, através de
centenas de hectares. As ruas principais, com 10 metros de largura, delimitam
«blocos» de habitações que fazem pensar nos de Nova Iorque… A cidade possuía...
uma rede de canalizações conducente a uma descarga de esgoto, a mais antiga que
alguma vez se descobriu.” (Clarke, R.; O Nascimebnto do Homem; Gradiva; Lisboa
1984; p.207 e 209).
“A gruta do Escoral, no Alentejo, perto
de Montemor-o-Novo, foi descoberta em 1963 e apresenta pinturas e gravuras nas
paredes da cavidade subterrânea…” “…As figuras são dominadas na sua maioria
pelo tema animalista. É notável o conjunto com representações geométricas onde
se encontram todas as variações conhecidas: os pontos, as curvas, arciformes,
linhas, escleriformes e reticulados. As figuras datam de há 25000 a 18000 anos
a. C. e de 18000 a 13000 anos a. C..” (Aragão, M. J.; História da Escrita;
Palimage Editores; Viseu 2003; p. 8).
“…Sobre a entrada da gruta de La
Pasiega… pode ver-se um conjunto de signos simbólicos que se denomina «A
Inscrição de La Pasiega», entre os quais há duas marcas de pegadas humanas.
Elas significam, sem dúvida, que era interdito aos profanos entrar nessa gruta
consagrada ao culto. O corpo humano estilizado reveste-se de significados
convencionais... Todavia, ao lado destas imagens naturalistas outras parecem
ter sido símbolos desde o início; trata-se de signos ditos «tectiformes», onde
uns julgam reconhecer cabanas e outros armadilhadas ou grades.” (Behn & W
lfel, 1972, p. 21).
A2 Conclusão
bibliográfica.
A
Civilização Suméria dominou culturalmente o Médio Oriente durante os 1500 anos
da sua ocupação: isso significa que outra civilização, com desenvolvimento
cultural equivalente e dotada de uma escrita
também afastada do estado
embrionário, passou ao domínio seguinte. Efetivamente a escrita suméria tinha
semelhanças com a escrita dos Elamitas (a escrita dos Elamitas, de caracteres
geométricos e lineares, pensa-se que derivou de símbolos pictográficos mais
antigos, ou de uma escrita anterior ao seu tempo e tempo Sumério) e com a
escrita hieroglífica dos Egípcios, quando as escritas analíticas do mundo
antigo eram usadas pelos habitantes da Mesopotâmia, do Egipto, de Creta e do
Vale do Indo, pelos Hititas (povo antigo da Ásia), os Chineses e os Mongóis: um
número grande de civilizações utilizando escritas que só podiam estar distantes
do estado embrionário da Escrita, o ponto de divergência de todas as escritas,
culturas e civilizações.
Também
que só uma escrita muito desenvolvida e muito distante do estado embrionário
podia apoiar os conhecimentos matemáticos que se atribuem aos Sumérios, como a
combinação dos sistemas decimal e sexagesimal para contar e a leitura do tempo,
e do círculo, em submúltiplos sexagesimais. E é curioso atribuir-se também aos
Babilónios o método de contagem do tempo que chegou ao presente; o que admite a
Babilónia no conjunto de civilizações dotadas de escritas evoluídas. Como a
Escrita Embrionária surgiu num momento só um tempo muito amplo, de milhares de
anos, permitiu a difusão geográfica e o desenvolvimento das escritas de há 5000
anos.
Mas
essa distância entre a Escrita Embrionária e as escritas de há 5000 anos também
é evidente nos perfis urbanos das grandes civilizações: por volta de 3300 a. C.
os Sumérios tinham cidades com arquivos escritos e centralizados em edifícios
estatais, como, tudo indica, uma rede escolar; a Civilização do Indo, que tinha
cidades muito bem delineadas arquitetonicamente e dotadas de rede de
canalizações com descarga de esgoto, iniciou o seu desenvolvimento 700 anos
depois; e a Civilização Egípcia, também com um governo centralizado e arquivos
escritos, ocorreu só 300 anos depois, por volta de 3000 a. C. É curioso que
esses três povos, que nos legaram sinais da sua grandiosidade urbana no mundo
antigo, eram dotados de escritas. Escritas evoluídas. Porque a arquitetura foi
uma consequência do desenvolvimento conjunto da Escrita, da Matemática e da
Arte.
Há
12000 anos, no termo da última era glaciar, o homem primitivo foi favorecido
ecologicamente para a fixação social. Surgiram a agricultura e a criação de
gado. 2000 anos depois, há 10000 anos,
já a agricultura, como fenómeno extensivo, era uma realidade. Para o
controlo da produção agrícola e das reservas de gado, assim como dos seus
mercados, nasceu e cresceu a burocracia. A linguagem verbal e o pensamento
numérico foram instigados aos grafismos da Escrita e da Matemática, de uma nova
memória, não cerebral e flutuante, mas impressa e fixa, que originou os
contratos sociais. Há 8000 anos surgiu a Escrita Embrionária. 3000 anos depois
a burocracia produtiva e mercantil estendera-se ao aparelho político e a
sociedade suméria tinha uma escrita sistematizada em rede escolar como
conhecimentos matemáticos evoluídos. O (escriba) sumério, de há 5000 anos,
possuía 3000 anos de verticalidade. A verticalidade e a frontalidade absoluta
do olhar, compatíveis com a maximização linguística, ou entrada na Escrita,
atingiram-se, pelo meu estudo bibliográfico, há 8000 anos.
A Escrita Embionária e a verticalidade
surgiram há 8000 anos: os registos na carapaça de tartaruga de Jia Nan e em
argila da Roménia, da Hungria e da Bulgária, são seus testemunhos arqueológicos.
A Escrita, já sistematizada nos moldes modernos, surgiu há 5000 anos: as tábuas
sumérias de Uruk são o seu testemunho arqueológico.. Entre os registos de há
8000 anos e os registos de há 5000 anos temos a divergência intermédia: as
inscrições nas peças de cerâmica de Ban Po e Anyang, ambas também documentos
arqueológicos. Os múltiplos registos de há 8000 anos dizem-nos que a Escrita
Embrionária não nasceu num ponto e sim dispersamente, que não foi um facto
pontual que a originou e sim o estado avançado do pensamento, da comunicação verbal
e da arte, que convergiu no estádio seguinte da linguagem, a Escrita. E os
signos anteriores da Arte Parietal, como os de La Pasiega e do Escoral, exigiam
um estado avançado de elevação: que convergiu na verticalidade.
B1
Bibliografia sobre a evolução infantil
tendente para a escrita.
”…Durante a terceira infância (dos 6 aos
11 anos), a lógica começa, progressivamente, a substituir a intuição e a
criança transforma-se num verdadeiro estudante. O universo mágico e sincrético
descolou-se. A partir deste momento, o autêntico distingue-se da ficção.
Constrói-se o universo do racional.” (Pepin, L.; A Criança no Mundo Actual;
Editorial Estampa; Lisboa1979; p. 72 e 76).
“E eis um novo escalão vencido. Bal. Tem
quase seis anos. Na sua lenta experiência por tentativas, conseguiu chegar
agora a um suficiente domínio do seu grafismo escrito para reproduzir a maior
parte das palavras que copia com uma segurança, uma rapidez e uma perfeição
satisfatórias. Só então, depois de atingido esse domínio elementar, se
estabelece uma relação no espírito da criança entre o grafismo das palavras e a
palavra oral ou do pensamento…” “…Enquanto não dominar a técnica do desenho, e
não o consegue antes dos 7, 8 anos, a criança só avança por tentativas,
ajustando lentamente as suas experiências.” (Freinet, C.; Aprendizagem da
Língua; Editorial Estampa; Lisboa 1972; p. 91 e 111).
B2
Estudo da correspondência dos 8000 anos da espécie com a idade intantil de
entrada na escrita.
A
interpolação vai obter o valor de K3: o coeficiente comparativo da evolução na
língua do homem de há 8000 anos e da criança na idade correspondente. 8000 anos
situa-se entre os 5000 anos sumérios e os 1,95 X 106 anos da origem
da Linguagem Moderna, de que conhecemos os coeficientes, 333,3333 e 88804,6889.
(K3 – 333,3333) / (8000 – 5000) = (88804,6889
– 333,3333) / (1,95 x 106 – 5000)
(K3 – 333,3333) / 3000 = 88471,3556 / 1,945 X
106
1,945
X 106 X K3 - 1,945 X 106 X 333,3333 = 3000 X 88471,3556
1,945
X 106 X K3 – 6,4833 X 108 = 2,6541 X 108
1,945 X 106 X K3 = (6,4833 + 2,6541) X 108
1,945 X 106 X K3 = 9,1374 X 108
K3 = 9,1374 X 108
/ (1,945 X 106)
K3 = 469,7892.
Dividindo 8000 anos por K3 obtemos o segmento M2E2 da
evolução individual que converge nos 23 anos, a idade ótima de conclusão de um
curso universitário na lingua e limite do crescimento volumétrico do cérebro
humano. A idade infantil paralela aos
8000 anos da espécie será N2M2.
M2E2
= 8000 / 469,7892 = 17,0289 anos.
E N2M2 = 23 - 17,0289 = 5,9711 anos.
Uma distância
muito aproximada aos 6 anos. Temos que o momento histórico equivalente aos 6
anos infantis foi há 8000 anos. Aos 6 anos a criança atinge o nível cognitivo
que lhe permite enfrentar a escrita elementar, da mesma forma que há 8000 anos
o homem entrou na Escrita Embrionária. O estudo matemático coincidiu com o
estudo bibliográfico. Há 8000 anos nasceu a Escrita Embrionária e atingiu-se a
verticalidade.